Contista canadiana, a quem chamam o Tchekov dos nossos dias, venceu o
Nobel da Literatura. Japonês Haruki Murakami e bielorrussa Svetlana
Alexievich terão de aguardar pela próxima oportunidade.
Nascida na província canadiana de Ontário em 1931, a escritora Alice
Munro venceu nesta quinta-feira o Prémio Nobel da Literatura, atribuído
pela Academia Sueca, que nela reconheceu um “mestre do conto
contemporâneo”.
Munro recebera já alguns dos mais importantes prémios
literários, incluindo, em 2009, o prestigiado Man Booker International
Prize, e era há muito uma candidata recorrente ao Nobel da Literatura.
Mas quando o secretário
permanente da Academia Sueca, Peter Englund, se dirigiu aos jornalistas
para anunciar o Nobel da Literatura de 2013, o nome de que se falava era
o da jornalista de investigação e prosadora bielorrussa Svetlana
Alexievich, que tinha acabado de ultrapassar o japonês Haruki Murakami
nas cotações das casas de apostas.
Quando recebeu o Man Booker
International Prize, o júri justificou a escolha afirmando que a autora,
“embora seja essencialmente conhecida como contista, mostra a
profundidade, sabedoria e precisão que a maior parte dos ficcionistas só
consegue alcançar numa vida inteira a escrever romances”.
Foi Cynthia
Ozick, ela própria uma talentosa contista, que, reconhecendo a consumada
mestria de Munro na história breve, lhe chamou há alguns anos o Tchekov
do nosso tempo, uma aproximação que, desde então, muitos críticos têm
glosado.
Tal como nos contos do mestre russo, o enredo é
relativamente secundário nas histórias desta canadiana, povoadas de
personagens e assuntos triviais, e cuja força está muitas vezes no
súbito impacto de um momento iluminante e revelador. Quase todos os seus
contos têm como cenário a região sudoeste da província canadiana de
Ontário, o que tem levado a que seja comparada a outros ficcionistas
cujas obras se centram na vida de pequenas cidades, como Sherwood
Anderson, Flannery O'Connor ou Carson McCullers.
A notícia do
Nobel chegou ao Canadá de noite, quando Munro dormia. A autora contou à
televisão canadiana CBC que foi acordada pela filha: “Sabia que era uma
das candidatas, mas nunca pensei que fosse ganhar.”
Munro disse ainda que ganhar o prémio é “formidável” e mostrou-se feliz por o mundo descobrir a sua escrita.
Nascida
numa família de criadores de raposas, Alice Munro começou a escrever na
adolescência, tendo publicado o seu primeiro conto, The Dimensions of a Shadow,
em 1950, quando frequentava a universidade. Ao mesmo tempo, ia ganhando
dinheiro em empregos ocasionais, trabalhando em restaurantes, na apanha
de tabaco, ou como bibliotecária.
A sua primeira colectânea de histórias, Dance of the Happy Shades,
saiu em 1968 e foi um sucesso imediato, tendo ganho o mais importante
prémio literário canadiano e recebido o elogio unânime da crítica. O
livro seguinte, Lives of Girls and Women (1971), é ainda hoje o
seu único romance, e não falta quem ache que se trata, na verdade, de
uma sucessão de contos articulados entre si.
Munro publicou mais
de uma dúzia de colectâneas de histórias curtas, muitas delas editadas
em Portugal pela editora Relógio d’Água, incluindo a mais recente, Amada Vida (Dear Life, 2012), traduzida pelo poeta José Miguel Silva.
Outros livros de Monro disponíveis em edição portuguesa são O Progresso do Amor (The Progress of Love, 1986), O Amor de Uma Boa Mulher (The Love of a Good Woman, 1998), Fugas (Runaway, 2004), A Vista de Castle Rock (The View from Castle Rock, 2006) e Demasiada Felicidade (Too Much Happiness, 2009).