segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Ana Margarida de Carvalho vence Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco

O livro "Pequenos Delírios Domésticos", de Ana Margarida de Carvalho, venceu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores, com o apoio da Câmara de Vila Nova de Famalicão, foi hoje anunciado.

"Um júri constituído por Cândido Oliveira Martins, Fernando Batista e Isabel Cristina Mateus decidiu, por unanimidade, atribuir o prémio ao livro 'Pequenos Delírios Domésticos', de Ana Margarida de Carvalho", lê-se no comunicado da Associação Portuguesa de Escritores (APE).

Segundo o júri, "trata-se de um conjunto de contos que surpreende o leitor pela invulgar atualidade temática e sociológica (dos incêndios que devastaram o país, em 2017, aos dramas íntimos de portugueses convertidos ao estado islâmico, de refugiados sírios num lar de velhos ou de uma mulher tunisina que dá à luz num barco apinhado de gente durante a travessia do Mediterrâneo, entre outros)".

A escritora alia a estas histórias "um notável trabalho de precisão e depuramento da palavra e, acima de tudo, a um olhar atento aos dramas humanos, independentemente do lugar mais ou menos doméstico que lhes serve de palco", afirma o júri, em ata, citada pela APE.

A estreia literária de Ana Margarida de Carvalho, "Que importa a fúria do mar", valeu-lhe o Grande Prémio de Romance e Novela da APE, em 2013, que voltou a receber em 2016 com "Não se pode morar nos olhos de um gato", que foi também distinguido com o Prémio Manuel Boaventura.

Jornalista, Ana Margarida de Carvalho, foi finalista este ano do Prémio P.E.N. na categoria narrativa, com esta sua primeira obra de contos. O Grande Prémio, com o valor pecuniário de 7.500 euros, é patrocinado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e será entregue em data a anunciar, segundo a mesma fonte.

O Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco foi instituído, em 1991, pela APE e "destina-se a distinguir uma obra em língua portuguesa de um autor português ou de país africano de expressão portuguesa, publicada em livro, 1.ª edição, no decurso do ano de 2017".

Fonte:


Pode aceder a todas as suas obras publicadas, na Biblioteca Municipal.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

CLUBE DE LEITURA - OUTUBRO - 6º ANIVERSÁRIO

O Clube de Leitura da Biblioteca Municipal, ontem, para comemorar o 6º aniversário, realizou a sua habitual sessão mensal na sala reservada do restaurante Fábrica dos Sentidos, para a abordagem e análise da obra "O casamento"  do controverso  jornalista, cronista, teatrólogo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980).

Nelson Rodrigues escreve obsessivamente sobre sexo, incesto, taras, em toda a espécie de desvios sexuais e afirmando que  "temos de encher o palco de uma rajada de monstros, o personagem tem que ser um monstro para que o espectador não seja". Para funcionar como uma espécie de catarse, pois segundo ele "cada vez que um personagem mata alguém em cena, alguém deixará de matar na vida real". Ele achava que o ser humano nasceu para se tornar santo.
O poeta Manuel Bandeira pediu-lhe a certa altura que escrevesse uma peça com pessoas normais ao que ele respondeu "Meu caro Manuel, eu só faço peças sobre pessoas como eu ou você! Todos somos aquilo."

Na revista Ler, nº 148, Ruy Castro, famoso autor de várias biografias de personalidades como Carmen Miranda, Garrincha, também publicou uma biografia de Nelson Rodrigues, com o título "Anjo pornográfico", tal como Nelson se autodenominava, na qual expõe muita sua da vida e personalidade.
Ruy Castro conheceu-o quando era menino de colo. Inicialmente, através de contos diários, uma moda na época, com o título  "A vida como ela é..." que ele publicava no jornal "Última hora", nos anos 50, que a mãe de Castro devorava e lhos lia, apesar dos seus inocentes 4 anos de idade.
Mais tarde vai conhecê-lo profissional e pessoalmente no jornal onde trabalhavam os dois. Era uma personalidade controversa e provocadora com o objetivo específico de produzir um abanão na sociedade carioca da época.

Segundo uma das participantes do debate de ontem, nota-se uma forte concentração de personagens com uma tão grande multiplicidade de pensamentos, tão díspares, o que nos exige um esforço enorme para compreender este complexo emaranhado entre a excentricidade e a loucura

É uma obra irónica, de crítica e sátira social a uma sociedade da época, cheia de preconceitos e tabus, por um lado desconcertante, mas ao mesmo tempo com momentos hilariantes, possivelmente verosímeis.

Em apenas 24 horas - aquelas que antecedem o casamento de Glorinha, menina dos olhos do seu pai (até em demasia) - o autor concentra nesta narrativa um desfile intenso de todas as obsessões que tanto o mitificaram como o tornaram maldito: adultério, incesto, moralismo, sexo e morte. Sabino, o pai, é informado que o seu genro foi apanhado a beijar outro homem e tem de decidir o que fazer: o problema é que um casamento não se adia, nem que para isso todas as vidas envolvidas fiquem viradas do avesso.
O Casamento é o único romance em nome próprio no meio das dezenas de peças de teatro e centenas de crónicas e ficções curtas escritas por Nelson Rodrigues. O livro foi feito por encomenda, concluído em apenas dois meses, e foi confiscado pela ditadura brasileira logo depois de ter sido publicado em 1966 por ser considerado «um atentado contra a organização da família».

Nelson Rodrigues é um mito do século xx brasileiro, e um dos escritores mais prolíferos e aclamados. Nasceu no Recife em 1912, mudando-se em 1916 para o Rio de Janeiro, cidade que seria o cenário privilegiado de toda a sua obra. Começou a trabalhar como jornalista aos 13 anos, logo na secção policial, num jornal fundado pelo pai, e nunca mais parou. Fez da crónica e da escrita um hábito diário e destacou-se em todos os géneros literários, pela qualidade e pela quantidade: escreveu 17 peças de teatro, nove romances e milhares de páginas de contos e crónicas, que mais tarde deram origem a várias edições de textos reunidos, assim como a adaptações para teatro, cinema e televisão. Idolatrado e odiado, politicamente conservador, Nelson Rodrigues tanto apoiou a ditadura militar brasileira como foi, mais tarde, defensor acérrimo das suas vítimas. Reacionário assumido, desencadeou sempre sentimentos fortes, não só devido à sua obra como também à sua vida pública e privada. Morreu no Rio de Janeiro em 1980. 

Se Freud fosse vivo, ou a qualquer psiquiatra dos dias de hoje, neste obra, teria na totalidade destas personagem os mais variados casos de estudo.

Nestes últimos 6 anos temo-nos encontrado todos os meses, sem interrupção, (excetuando agosto), para falar de livros com base numa seleção que tem sido consensual.
Tudo isso merece uma congratulação. A persistência dos nossos encontros, o gosto comum pela partilha de ideias e, sobretudo, o prazer da leitura.
Citando Ana Paula Oliveira em relação aos livros, "desejo-os para recuperar a serenidade. Sem eles, a imaginação atrofia, as ideias acorrentam-se e a solidão torna-se insuportável. Sem eles, tudo é escuridão. Eles trazem luz. Tranquilamente provocadores".

Carpe Librum!

 
6º Aniversário do Clube de Leitura da Biblioteca Municipal de S. João da Madeira.