sexta-feira, 24 de abril de 2020

O Coronavírus (Covid-19) a tecnologia e as pessoas com deficiência da visão

Não vamos abordar este tema na perspetiva dos especialistas, e muito menos com o objetivo de veicular informação alarmista, reproduzindo simples crenças ou boatos. O objetivo deste artigo é falar sobre o impacto desta doença, no dia a dia das pessoas com incapacidade visual, baseada no conhecimento divulgado pelas fontes oficiais.

A Covid-19 é uma infeção respiratória muito contagiosa, provocada pelo novo Coronavírus, ao qual também se dá o nome de SARS COV 2, acrónimo de "Severe acute respiratory syndrome".

Os seus sintomas sugestivos são, numa primeira análise, febre acima dos 38 graus, tosse seca, e dispneia ou falta de ar, indo desde manifestações muito ligeiras, a moderadas, até um quadro de pneumonia severa, e, em último caso, pode provocar a morte.

Ainda não existem certezas, mas investigações a vários níveis, apontam como cada vez mais provável, que a origem desta infeção tenha acontecido em dezembro de 2019, com a transmissão por um morcego a uma pessoa, num mercado ao ar livre, na cidade chinesa de Wuhan. Certo é que o potencial de contágio deste vírus se tornou evidente, com a disseminação rápida da doença por todo o mundo.

A situação de descontrolo do contágio, chegou ao ponto de, recentemente, a Organização Mundial da Saúde, ter classificado esta situação de pandemia. Desde então, adquirimos a consciência de que, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, todos temos de lidar com este problema.

Por todo o mundo, as consequências desta pandemia têm sido muito evidentes. Em alguns países, o número de pessoas infetadas e falecidas ascende já à ordem das centenas de milhares.

Para tentar controlar o avanço da infeção, múltiplos governos têm implementado políticas restritivas como limitações à liberdade de circulação, cercas sanitárias, e confinamento de populações inteiras em casa.

Numa dimensão sem precedentes, atividades económicas, eventos sociais, culturais, desportivos, religiosos e outros, têm sido sucessivamente suspensos ou cancelados, provocando profundas disrupções na vida das comunidades, e adivinhando uma realidade social e económica totalmente nova e imprevisível.

Devido ao confinamento prolongado, muitas pessoas começam a sofrer de ansiedade, stress, depressão, e outras patologias mentais resultantes do isolamento e distanciamento social, e do facto de não se saber nem quando, nem como se regressará à normalidade.

Tem sido igualmente evidente a grande dificuldade que os sistemas de saúde, mesmo em países desenvolvidos, sentem para dar resposta ao número cada vez maior de pessoas a necessitar de internamento e vigilância médica.

Este vírus é um inimigo silencioso que não escolhe nação, raça, género, nível de riqueza, idade, ou qualquer outra condição. Ninguém está isento de risco.

Alojando-se no sistema respiratório, o Coronavírus está presente em secreções como muco nazal, vapor respiratório, ou saliva. Assim, um dos modos mais fáceis de contrair a doença, é estar em contacto muito próximo e durante certo tempo, com uma pessoa infetada que expira, espirra ou tosse na direção de outra.

Os especialistas acreditam que este agente infecioso pode permanecer ativo durante horas ou dias, dependendo dos casos, em diversas superfícies como madeira, papel, metal, plástico e outras. Assim, uma pessoa também pode ficar infetada se tocar com as mãos numa superfície contaminada com o vírus, e depois levar, ainda que inadvertidamente, as mãos ao rosto, aos olhos ou ao nariz.

Esse é um dos motivos pelos quais nós, pessoas cegas ou com baixa visão, corremos riscos acrescidos, em comparação com as pessoas não portadoras desta deficiência.

Por exemplo, imagine uma pessoa não cega que vai utilizar um terminal de multibanco. Ao chegar ao local, a pessoa imediatamente localiza a máquina com o lhar. Logo de seguida, também utilizando apenas a visão, a pessoa consegue localizar a ranhura na qual vai introduzir o cartão, as teclas a utilizar para efetuar a operação pretendida, e a abertura através da qual vai recolher o dinheiro que levantou, ou o comprovativo da operação em papel.
Apenas vão ser necessários alguns dedos para efetuar todo o processo.

Por seu lado, a pessoa cega não tem esse tipo de controlo. Necessita obrigatoriamente de utilizar as mãos para localizar a máquina, percorrer também com as mãos, a superfície da máquina até encontrar a ranhura para o cartão, e usar novamente as mãos para localizar e acionar as teclas pretendidas.
Por fim, como nem todas as máquinas multibanco são iguais, ainda é necessário usar as mãos para encontrar a abertura, e proceder ao levantamento do dinheiro, ou qualquer outro comprovativo.

Se a superfície do terminal estiver contaminada, facilmente vão ficar contaminados também o cartão, a roupa e a bengala que a pessoa utiliza na sua deslocação.
Este é apenas um dos muitos exemplos.

Concluindo, por ter de usar o sentido do tacto de uma forma muito mais intensiva, a pessoa cega expõe-se a um risco muito maior de ser infetada.

Evidentemente, não vamos adotar atitudes e comportamentos obsessivos, porque tudo o que podemos fazer para prevenir o nosso contágio e o de outras pessoas, é apenas o humanamente possível. No entanto, faz todo o sentido não descurar aquilo que é essencial.

Como pessoas mais expostas ao risco, nós cegos e pessoas com baixa visão, temos a responsabilidade de redobrar os nossos cuidados na higienização frequente das mãos, e em adotar práticas de etiqueta respiratória, como, por exemplo, sempre que tossimos ou espirramos, fazê-lo na direção do cotovelo; nunca para as mãos, e muito menos na direção das outras pessoas.
É igualmente importante estarmos atentos a todas as orientações dadas pelas autoridades governamentais e de saúde, e, nas situações apropriadas como espaços fechados, transportes públicos, e outras situações em que o distanciamento físico seja mais difícil, usarmos máscaras, igualmente e sempre de acordo com essas mesmas orientações fornecidas pelas entidades competentes.

Mas nem tudo são más notícias ou regras de prevensão. Esta pandemia, segundo a Organização Mundial da Saúde, é a primeira na história, sobre a qual se está a exercer efetivo controlo.

Para muitos cegos, estar praticamente confinados à sua residência, já não é nenhuma novidade; portanto, é menos provável que a incidência de patologias mentais associadas a esta necessidade, seja mais evidente entre nós.

Além disso, as novas tecnologias têm desempenhado um papel fundamental no combate ao tédio e ao isolamento, e nós pessoas portadoras desta incapacidade, podemos usar essas ferramentas com esse objetivo.

Ler braille, ouvir audiolivros e podcasts, jogar, assistir a programas com audiodescrição que existem em cada vez maior quantidade, são apenas algumas maneiras interessantes de preencher o tempo livre, consequência do confinamento.

Como medidas preventivas, sempre que possível, nós cegos devemos recorrer a alternativas como as compras pela internet, ou os serviços de entregas ao domicílio.

A Covid-19 vai também obrigar a mudanças muito profundas na realidade laboral. A procura de trabalho sempre foi um enorme desafio para quem tem deficiência visual. Mesmo assim, podemos aproveitar o cada vez maior recurso ao teletrabalho, como mais uma ferramenta para desenvolvermos competências nu uso das novas tecnologias, incluindo sistemas de videoconferência, reuniões em nuvem, plataformas colaborativas, correio eletrónico, e outras áreas.

Quando ultrapassarmos esta situação difícil, certamente seremos mais fortes, estaremos mais preparados para enfrentar outras dificuldades e desafios.

Que cada um de nós faça o seu máximo para que, no final, todos possamos olhar para trás, com a sensação do dever cumprido. Afinal, todos nós temos um papel imprescindível não apenas como agentes de saúde pública, como em todas as outras áreas da vida em sociedade.

terça-feira, 21 de abril de 2020

PALAVRAS DE BOLSO - UMA HISTÓRIA POR DIA

Histórias contadas por Ana Isabel Gonçalves e Paula Pina, uma iniciativa PROLE - Programa de Leitura Emergente.







segunda-feira, 20 de abril de 2020

A Rapariga no Comboio, Paula Hawkins

Rachel, uma alcoólica desempregada e deprimida, sofre pelo seu divórcio recente. Todas as manhãs ela viaja de comboio de Ashbury a Londres, fantasiando sobre a vida de um jovem casal que vigia pela janela. Certo dia ela testemunha uma cena chocante e mais tarde descobre que a mulher está desaparecida. Inquieta, Rachel recorre a polícia e vê-se completamente envolvida no mistério.



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quinta-feira, 16 de abril de 2020

LUÍS SEPULVEDA (1948-2020)



O mundo despediu-se hoje de Luis Sepúlveda, vítima de covid-19. O adeus a um escritor "amado pelos leitores e pelos amigos" e um homem "combativo, sonhador, resistente".

Fonte: https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/querido-lucho-as-reacoes-a-morte-de-luis-sepulveda

Livros do autor disponíveis no acervo da Biblioteca:


Sepúlveda, Luis - A sombra do que fomos. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2009. , 159, [1] p. ; 20 cm. 978-972-0-04076-3



Sepúlveda, Luis - As rosas de Atacama. 1ª ed. Porto : Asa , 2000. , 143, [1] p. ; 20 cm. 972-41-2384-7



Sepúlveda, Luis - O poder dos sonhos. 1ª ed. Porto : Asa , 2006. , 119, [9] p. ; 20 cm. 972-41-4870-X



Sepúlveda, Luis - O velho que lia romances de amor. 17ª ed. Lisboa : Asa , 2000. , 110, [2] p. ; 20 cm. 972-41-1336-1



Sepúlveda, Luis - Uma história suja. Lisboa : Asa , 2004. , 218, [4] p. ; 22 cm. 972-41-4005-9



Sepúlveda, Luis - Crónicas do sul. Porto : Asa , 2008. , 118, [9] p. ; 20 cm. 978-989-23-0016-0



Sepúlveda, Luis - Diário de um killer sentimental. Porto : Público , 2002. , 77, [2] p. ; 21 cm. 84-96075-75-3



Sepúlveda, Luis - Encontro de amor num país em guerra. 1ª ed. : Centro Prof. Albuquerque e CastroPorto : Santa Casa de Misericórdia do Porto , [199-]. , 5 vols. ; 30 cm.



Sepúlveda, Luis - O fim da história. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2017. , 174 p. ; 20 cm. 978-972-0-04944-5



Sepúlveda, Luis - História de um caracol que descobriu a importância da lentidão. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2014. , 105 p. : il ; 20 cm. 978-972-0-04632-1



Sepúlveda, Luis - História de um gato e de um rato que se tornaram amigos. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2013. , 63, [1] p. : il. ; 20 cm. 978-972-0-04480-8



Sepúlveda, Luis - História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar. 17ª ed. Porto : Asa , 2006. , 121 p. : il. ; 18 cm. 972-41-1848-7



Sepúlveda, Luis - História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar : audiolivro. São João da Madeira : Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo -Centro de Leitura Especial (CLE) , 2013. , 1 cd (ca. de 14:11 min.) : Stereo ; 12 cm.



Sepúlveda, Luis - Histórias daqui e dali. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2010. , 158, [1] p. ; 20 cm. 978-972-0-04312-2



Sepúlveda, Luis - Nome de toureiro. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2013. , 184 p. ; 20 cm. 978-972-0-04425-9



Sepúlveda, Luis - Patagónia Express : apontamentos de viagem. 2ª ed. Porto : Porto Editora , 2011. , 157, [1] p. : il. ; 20 cm. 978-972-0-04090-9



Sepúlveda, Luis - Todas as fábulas. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2018. , 356, [1] p. : il. ; 22 cm. 978-972-0-03094-8



Sepúlveda, Luis - Últimas notícias do sul. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2012. , 153, [6] p. ; 20 cm. 978-972-0-04369-6



Sepúlveda, Luis - A venturosa história do usbeque mudo. 1ª ed. Porto : Porto Editora , 2015. , 125, [1] p. ; 20 cm. 978-972-0-04788-5




sábado, 11 de abril de 2020

EXPOSIÇÃO VIRTUAL "DUOMO" DE DIANA COSTA

A artista plástica Diana Costa abriu a sua primeira exposição individual "Duomo" na Biblioteca de S. João da Madeira, no passado dia 6 de março, no âmbito do Festival da Poesia à Mesa 2020, para ter que a fechar 10 dias depois.

É uma exposição com caráter poético, inspirada no livro "Ruído branco", nas letras e melodias da artista Ana Carolina.

Diana refere que a sua pintura se apropriou dos "elementos gráficos identificáveis em sinais puramente plásticos cumprindo uma missão subversiva relativamente à imagem inicial", na qual há tinta, há cor, há mensagem...

Esta mostra merecia ser visitada fisicamente. Há um sentimento de desânimo por se ter que fechar  uma exposição que implicou um investimento considerável de tempo, económico e também sentimental.

Por esse motivo vamos partilhar as obras expostas fazendo, em alternativa, uma exposição virtual.

Esperamos que gostem.

"Trago no olhar visões extraordinárias que abracei de olhos fechados"
Acrílico sobre papel impresso e vidro recortado
60x50 cm

"Espera aí"
Acrílico sobre papel impresso e vidro acrílico recortado
50x60 cm


"São dois olhos, dois ouvidos"
Acrílico sobre papel impresso
70x100 cm


"Sem título"
Acrílico e colagem sobre papel
70x100 cm


"Sem título"
Acrílico sobre papel impresso e acrílico recortado
50x60 cm

"Sem título"
Acrílico e colagem sobre papel
100x70 cm


"Sem título"
Acrílico e colagem sobre o papel e vidro acrílico recortado
25x100 cm



"28"
Acrílico e colagem sobre papel e vidro acrílico recortado
45x120 cm


"Aqui"
Acrílico sobre papel impresso e vidro acrílico recortado
70x100 cm


"Por entre o realejo lá no fim da tarde"
Acrílico sobre papel impresso e vidro acrílico recortado
50x60 cm




"Sem título"
Acrílico e colagem sobre papel
42x30 cm


"Sem título"
Acrílico e colagem sobre papel
60x50 cm


"Anjo bom, amor perfeito, no meu peito"
Acrílico e colagem sobre papel
42x30 cm






DO LIVRO "O AMOR EM TEMPOS DE CÓLERA" DE GABRIEL GARCÍA MARQUEZ

...
- Capitão, o menino está preocupado e muito inquieto devido à quarentena que o porto nos impôs!
- O que te inquieta, menino? Não tens comida suficiente? 
Não dormes o suficiente?
- Não é isso, Capitão. É que não suporto não poder ir à terra e abraçar minha família.
- E se te deixassem sair do navio e estivesses contaminado, suportarias a culpa de infectar alguém que não tem condições de aguentar a doença?
- Não me perdoaria nunca, mas para mim inventaram essa peste.
- Pode ser, mas e se não foi inventada?
- Entendo o que queres dizer, mas me sinto privado da minha liberdade, Capitão, me privaram de algo.
- E tu te privas ainda mais de algo.
- Está de brincadeira, comigo?
- De forma alguma. Se te privas de algo sem responder de maneira adequada, terás perdido.
- Então quer dizer, segundo me dizes, que se me tiram algo, para vencer eu devo privar-me de mais alguma coisa por mim mesmo?
- Exatamente. Eu fiz quarentena há 7 anos atrás.
- E o que foi que tiveste de te privar?
- Eu tinha que esperar mais de 20 dias dentro do barco. Havia meses em que eu ansiava por chegar ao porto e desfrutar da primavera em terra. Houve uma epidemia. No Porto Abril nos proibiram de descer. Os primeiras dias foram duros. Me sentia como vocês. Logo comecei a confrontar aquelas imposições utilizando a lógica. Sabia que depois de 21 dias deste comportamento se cria um hábito, e em vez de me lamentar e criar hábitos desastrosos, comecei a comportar-me de maneira diferente de todos os demais. Comecei com o alimento. Me impus comer a metade do quanto comia habitualmente. Depois comecei a selecionar os alimentos de mais fácil digestão, para não sobrecarregar o corpo. Passei a me nutrir de alimentos que, por tradição histórica, haviam mantido o homem com saúde.
O passo seguinte foi unir a isso uma depuração de pensamentos pouco saudáveis e ter cada vez mais pensamentos elevados e nobres. Me impus ler ao menos uma página a cada dia de um argumento que não conhecia. Me impus fazer exercícios sobre a ponte do barco. Um velho hindu me havia dito anos antes, que o corpo se potencializava ao reter o alento. Me impus fazer profundas respirações completas a cada manhã. Creio que meus pulmões nunca haviam chegado a tamanha capacidade e força. A parte da tarde era a hora das orações, a hora de agradecer a uma entidade qualquer por não me haver dado, como destino, privações graves durante toda minha vida.
O hindu me havia aconselhado também a criar o hábito de imaginar a luz entrando em mim e me tornando mais forte. Podia funcionar também para as pessoas queridas que estavam distantes e, assim, integrei também esta prática na minha rotina diária dentro do barco.
Em vez de pensar em tudo que não podia fazer, pensava no que faria uma vez chegado à terra firme. Visualizava as cenas de cada dia, as vivia intensamente e gozava da espera. Tudo o que podemos obter em seguida não é interessante. Nunca. A espera serve para sublimar o desejo e torná-lo mais poderoso. Eu me privei de alimentos suculentos, de garrafas de rum e outras delícias. Me havia privado de jogar baralho, de dormir muito, de praticar o ócio, de pensar apenas no que me privaram.
- Como acabou, Capitão?
- Eu adquiri todos aqueles hábitos novos. Me deixaram baixar do barco muito tempo depois do previsto.
- Privaram vocês da primavera, então?
- Sim, naquele ano me privaram da primavera e de muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim, floresci, levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim.
...