domingo, 27 de dezembro de 2009

SE EU FOSSE O PAI NATAL

Às vezes, os meninos dizem-me que eu tenho cara de Pai Natal. E eu sorrio. Porque gosto de me imaginar a habitar essa figura ternurenta e generosa, saída da bruma das lendas e que veio desabar neste Natal com que vestimos a velha festa do Solstício de Inverno e celebramos a alegria de nascer e renascer vezes sem conta.

Se eu fosse o Pai Natal não ia comprar prendas ao Centro Comercial. Nem carrinhos, nem bonecas, nem perfumes, nem canetas douradas, nem gravatas às riscas, nem telemóveis, nem consolas, nem nada disso.

Se eu fosse o Pai Natal levava um verso a cada um. Por que, agarrados a um verso podemos sobreviver às intempéries da vida.

Dava um verso de Neruda a cada desempregado, um de David Mourão-Ferreira a todas as mulheres sem amor, um de Florbela Espanca aos homens distraídos, um de Lorca aos poetas que deixaram secar a maravilha das palavras, um de Cesário aos condutores da Carris com olhos cheios de Tejo, um de Vinícius aos alcoólicos anónimos que dançam sobre o chão da sua imperfeição, um de Sebastião da Gama a cada professor que não se deixa encerrar em 4 paredes e três relatórios, um de Prévert aos gatos que caminham como imperadores no alto dos telhados, um de José Craveirinha a todos os cantores de RAP, um de Gomes Leal aos que naufragam em caixotes pelos cantos da cidade, um de Ferlinghetti aos saxofones que nos fazem subir ao céu, um de Ruy Belo aos que acreditam que ainda tudo é possível, um de Eugénio aos que choram abraçados a uma macieira, um de Sophia aos que habitam o esplendor do mar, e um da Matilde Rosa Araújo a todas as crianças do mundo.
Bom Ano

José Fanha

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