O escritor Michel Tournier, um dos grandes autores franceses da segunda metade do século XX, Prémio Goncourt pelo romance O Rei dos Álamos, em 1970, morreu esta segunda-feira aos 91 anos, em sua casa, perto de Paris, disseram os seus familiares à AFP.
Considerava-se
um discípulo de Zola e de Flaubert. Gostava de dizer que escrevia para
os seus leitores e para ser lido e acreditava que “a função da
literatura é a de enriquecer o diálogo entre as pessoas”, disse-o numa
entrevista ao PÚBLICO, em 1991, na sua primeira visita a Portugal onde
esteve a fazer conferências, em Lisboa e no Porto, e a visitar escolas.
Michel
Tournier nasceu em Paris em 1924 e estudou filosofia na Sorbonne, onde
foi aluno de Gaston Bachelard. Mais tarde, apaixonou-se pela obra de
Claude Lévi-Straus, de quem foi também aluno no Musée de l’Homme. Vindo
de uma família de germanistas (os seus pais conheceram-se na Sorbonne
onde estudavam alemão) partiu para a Alemanha, para a Universidade de
Tubingen onde esteve entre 1946 e 1950. Mas não só na academia foi a
sua vida. Antes de se dedicar a tempo inteiro à escrita, foi produtor e
realizador na RTF (1949-1954), assessor de imprensa da Europe 1
(1955-1958), chefiou os serviços das edições Plon entre 1958 e 1968
(onde também foi tradutor) e foi produtor da televisão francesa.
Era
membro da Academia Goncourt desde 1972 e é autor de uma obra vasta, que
vai do conto ao romance, da crónica ao texto autobiográfico, do ensaio
aos livros para crianças e uma peça de teatro. Recebeu o grande prémio
da Academia Francesa pelo seu primeiro livro Sexta-feira ou os Limbos do Pacífico (Relógio d'Água), em 1967, que demorou dois anos a escrever. Seguiram-se o famoso O Rei dos Álamos (Dom Quixote), O Galo do Mato (Dom Quixote), Gaspard, Melchior e Balthazar (Dom Quixote), Giles & Jeanne (Dom quixote), Os Meteoros (Dom Quixote), A Gota de Ouro (Dom Quixote), Sexta-feira ou a Vida Selvagem (Ed. Presença).
As conferências que deu em Portugal, em 1991, tinham por título "Profession: conteur”,
profissão: contador de histórias. Na época, deu também uma entrevista
ao Expresso, onde explicava que fazia romances porque tinha falhado na
filosofia. E lembrava, com humor, que um crítico, uma vez tinha
questionado: “Por quanto tempo é que Tournier nos vai fazer pagar o seu
falhanço na filosofia?”
Sobre
a sua obra explicava na mesma entrevista : “Conto histórias que
parecem extremamente realistas, e que o são, mas que têm por detrás de
si, escondido, todo um arsenal filosófico. E têm de ser histórias muito
simples: quanto mais os meus livros podem ser lidos por um público
jovem, mais eu alcancei o meu objectivo.”
Com
o fotógrafo Lucien Clergue, e o historiador Jean-Maurice Rouquette, o
escritor Michel Tournier fundou os Rencontres Internationales de la
Photographie d'Arles, mais tarde baptizados apenas como Rencontres
d'Arles. Tem textos inspirados por imagens fotográficas (Des Clefs et des Serres, 1979, e Vues de dos, 1981).
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