Ontem, pelas 21 horas, na Biblioteca Municipal, decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura para uma conversa informal sobre a obra "Ema" de Maria Teresa Horta.
Trata-se de uma obra que já foi editada em 1984, um romance bem construído, em linguagem poética, que retrata um obsessivo universo feminino, no qual se destaca o amor/paixão/ódio e a loucura.
Narrado de forma circular, em peças soltas, que por vezes, se torna um quebra-cabeças e nos obriga a reler páginas anteriores.
A atmosfera é obscura, silenciosa, cheia de monólogos "gritantes", sobressaindo a violência física e psicológica sobre as mulheres ao longo de gerações, que acreditamos fazer parte de um passado remoto, mas que ainda persiste na atualidade, por muito que nos custe aceitar.
Destacamos este pequeno extrato, que nos dá conta da violência exercida sobre as mulheres nos mais pequenos pormenores:
"Um dia levou consigo o livro que mais a tentara.
- Quem tocou nos meus livros? - perguntou-lhe ele à noite e Ema contou a verdade, olhos baixos como se confessasse um crime, um pecado. O marido olhou-a com estranheza e passou a fechar as estantes à chave.
Primeiro ficou a olhar os livros através dos vidros, cheia de uma nostalgia que a matava, depois atreveu-se a pedir que lhe emprestasse um à sua escolha e ele só respondeu:
- Proíbo-a que leia!
Então conseguiu uma chave falsa e enquanto fingia que bordava escondia o livro entre a toalha, as linhas e as saias se ele se encontrava em casa. Nas horas em que ele não estava devorava livros após livro, de que ia disfarçando o melhor que podia a falta nas estantes. Mas ele não voltara a dar por nada.
Era o único prazer de Ema...
Foi um prazer ler "Ema" e conhecer o universo de Maria Teresa Horta.
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