segunda-feira, 4 de outubro de 2021

A Praça de Carlos Costa | 8 outubro, 19h00


A PRAÇA de Carlos Costa
Exposição de Fotografia


Uma das primeiras exposições que a Biblioteca Municipal acolheu no início dos anos 60, logo após a sua inauguração, foi uma mostra do fotógrafo Carlos Costa, que se viria a tornar numa figura de referência na cidade.

Com esta mostra pretende-se dar a conhecer a evolução da Praça, centro da cidade, desde o início do século 20 até aos nossos dias, passando também pela intervenção arquitetónica de Raul Lino, que a referiu como “sala de estar” dos sanjoanenses.

Desfrutemos desta evolução pela lente de Carlos Costa.



"Mesmo antes da proclamação pública da Fotografia em 1839, Daguerre e Talbot já fixavam imagens da paisagem que habitavam, contingência fotográfica determinada pela lentidão do processo tecnológico de então. Carlos Costa, sem essa imposição, munido de equipamentos modernos, prendeu-se ao registo da sua terra, da sua região, deambulando entre a urbe, a ruralidade, a indústria, as pessoas, os acontecimentos festivos, viajando para saborear as paisagens da ria, no Areinho e na Torreira, onde capta os moliceiros engalanados em dia festivo.


Sendo a Praça um lugar destacado de S. João da Madeira, sítio de encontro e de passagem obrigatória de quem ia ou vinha do Porto a Lisboa, entroncamento com placa indicativa dos 12 Km a Vale de Cambra, serviu de palco à deambulação pelos vários ângulos de visão, reunindo um conjunto de imagens ilustrativas da importância que lhe dava.

A fotografia de Carlos Costa, é de um tempo sociológico, que pode ser de um antes ou depois, visivelmente fugidia do que hoje se vulgarizou chamar “momento decisivo”, conceito alheio e atribuído por outros à Fotografia Bressoniana.

Carlos Costa tem a exata noção das alterações que o homem e a natureza promovem no nosso habitat e, sabe que a Praça, tal como a viu desde criança, vai-se metamorfoseando e, fotografando-a, ‘escreve’ com luz a história da sua terra, a importância do sítio numa época, observado e certificado por si próprio na representação do que viu, existiu e viveu – a sua Praça."

Aníbal Lemos
Curador


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Nota Biográfica

Carlos Alberto Costa nasceu no lugar das Vendas (Praça) a 4 de maio de 1908.

Aos 12 anos inicia a sua atividade profissional como funileiro/picheleiro ao lado do seu pai, revelando desde cedo o seu espírito empreendedor.

Na sequência de uma oferta de seu pai de uma máquina fotográfica, uma Kodak Recomar 33 e de um manual de instruções de fotografia, CC deixou-se fascinar pelo mundo das imagens fotográficas e pela câmara escura, instalando um laboratório no seu próprio quarto. Desde aí começou a fazer experiências e nunca mais parou.

Carlos Costa esteve na base de grandes acontecimentos na urbe, como a instalação da primeira Central Elétrica, na instalação do primeiro posto de gasolina, no primeiro serviço de carro de aluguer para transporte de passageiros, na construção da primeira casa de cimento armado, no fabrico de cartão, na criação do cinema, etc.

Como motorista conheceu Portugal inteiro e estabeleceu contactos com os clientes, maioritariamente brasileiros torna-viagem que quando vinham a Portugal requisitavam serviços de carro de aluguer para conhecer o país. Este trabalho permitiu-lhe abrir horizontes, conhecer muita gente e saber o que se fazia pelo mundo na época.

Devido ao seu espírito observador, olhar atento e crítico, foi aprimorando a sua sensibilidade estética e intuição artística. A paixão pela fotografia e pelo cinema permitiu-lhe viajar e produzir materiais que se viriam a tornar de grande valor para o património documental da cidade.

As suas fotografias eram reveladas no Porto na Invict Film, onde se deslocava com frequência, o que lhe permitiu um convívio com outros fotógrafos de renome no Porto.

Colaborou também como fotógrafo na edição da “Monografia de S. João da Madeira” editada em 1943.

Algumas das suas fotografias obtiveram prémios, outras tornaram-se um importante legado patrimonial histórico e etnográfico. Mais tarde veio o cinema e CC passou a registar imagens dos mais variados acontecimentos. Chegou a produzir um documentário com o Cortejo histórico de Lisboa em 1947, inserido nas comemorações do VIII Centenário da tomada de Lisboa aos mouros, sob a coordenação de Leitão de Barros, que não foi aceite por motivos meramente técnicos.

JSC descrevia-o desta maneira no jornal República a 31 de dezembro de 1964, “trata-se de um homem circunspecto, sem deixar de ser comunicativo, uma pessoa que pensa com o coração, e que, pensando com o coração, descobriu na vida o filão da sua tendência definitiva para o mundo das imagens, tornado espiritualidade”.

A Praça Luís Ribeiro, centro cívico da urbe é o espelho do seu desenvolvimento e, por isso, encontra-se permanentemente em obras. Carlos Costa com a sua máquina fotográfica regista esta evolução com imagens que se vieram a tornar num valioso legado documental, fotográfico e cultural para as gerações futuras e, tal como referia JSC, “Sem a sua câmara fotográfica, sem as suas peregrinações, sem o seu depoimento inestimável quanto a S. João da Madeira de ontem, nunca mais os novos viriam a saber – nunca mais!!... que palhas humildes nasceu esta urbe de hoje.”

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