sexta-feira, 29 de novembro de 2013

NOVIDADES NA BIBLIOTECA





CLUBE DE LEITURA - "Debaixo de algum céu" de Nuno Camarneiro

Na noite de ontem, decorreu mais um encontro do Clube de Leitura da Biblioteca, para conversar sobre a obra escolhida "Debaixo de algum céu" do jovem e premiado escritor Nuno Camarneiro. 

Em modo de introdução fez-se uma contextualização da obra, de características pós-modernas, muito "rente" à poesia, ou seja, em certas passagens estamos perante prosa poética. 

Leu-se também um texto do crítico literário António Guerreiro que ora o aproxima ora o afasta de modelos como George Perec. 

A partir de um tema banal que outros grandes escritores já tomaram, o narrador vai estruturando esta narrativa num big-brother alucinante de dramas humanos, sediada num espaço de um prédio de habitação, numa história de portas adentro, sem barreiras, no entanto com muitas janelas de comunicação com o exterior marítimo e com personagens que nos trazem coisas da praia, em que até um dos personagens  se chama Vento...

De modo alegórico, num relato fragmentário e polifónico, todas as personagens estão dominadas pela "Pathos", dor, sofrimento, pontuada por algumas alegrias e decisões irreversíveis, remetendo-nos para a vida real, do dia-a-dia de todos nós. 

Salientou-se também que, apesar de Carmarneiro ser muito jovem, a sua sensibilidade e inteligência só podem ser razões para nos apresentar mundos cheios desta densidade emocional e plenos de maturidade.

Para a próxima sessão, que será em 30 de Janeiro de 2013, a obra seleccionada foi "A infância de Jesus"  de J. M. Coetzee, escritor sul africano, Prémio Nobel da Literatura 2003, Prémio Man Booker e Prémio Jerusalém.

Até lá, Bom Natal e Boas Leituras!



terça-feira, 26 de novembro de 2013

Alexandra Lucas Coelho vence Grande Prémio de Romance da APE

O romance E a Noite Roda de Alexandra Lucas Coelho (Tinta da China) é o vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela APE/ Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas 2012.

O prémio, que tem o valor de 15 mil euros e é co-promovido pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, foi atribuído por unanimidade. José Correia Tavares, Ana Marques Gastão, Clara Rocha, Isabel Cristina Rodrigues, Luís Mourão e Manuel Gusmão compuseram o júri, que já se reunira por duas vezes antes de tomar uma decisão final, esta segunda-feira. 
E a Noite Roda, história de amor entre uma jornalista catalã – Ana Blau, a narradora – e um jornalista belga, batia-se com mais cinco finalistas:O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel, de Mário de Carvalho, Jesus Cristo Bebia Cerveja, de Afonso Cruz, A Rapariga Sem Carne, de Jaime Rocha, e O Banquete, de Patrícia Portela. 

“Se já tinha ficado muito surpreendida por ter sido nomeada”, disse a autora ao PÚBLICO, “fiquei completamente abismada quando soube que tinha ganho”. E acrescenta que se sente “muito honrada” não apenas por admirar “todos os escritores que já o receberam”, mas também os que integraram este júri, e ainda os autores cujos livros concorriam directamente com o seu. 

“Admiro-os muito a todos e gostava de partilhar de alguma forma o prémio com eles”. Alexandra Lucas Coelho explica que deixou os quadros do PÚBLICO no início deste ano, onde se mantém como cronista e colaboradora, e que quis “fazer uma opção de vida que passava por tentar escrever livros”. Daí que este prémio não pudesse ter chegado em melhor hora. “É um enorme incentivo para mim, e em particular para o romance que estou agora a escrever, que se chamará Deus Dará e que irá situar-se inteiramente no Rio de Janeiro. 

A repórter e romancista fez ainda questão de agradecer à sua editora, a Tinta-da China, e em especial a Bárbara Bulhosa, a primeira pessoa a quem deu a ler o livro. “A Tinta-da-China é a minha casa e fico muito contente que com este livro tenha recebido o seu primeiro prémio na ficção”, disse Lucas Coelho, que já tinha publicado na mesma chancela vários livros de reportagem e de viagens: Caderno Afegão (2009),Viva México (2010), Tahrir! (2011) e, já este ano, Vai, Brasil. A estes títulos soma-se ainda o seu livro de estreia, Oriente Próximo, que saiu em 2007 na Relógio D’Água. Licenciada em Comunicação Social pela Universidade Nova de Lisboa e várias vezes premiada enquanto repórter – recebeu designadamente o Grande Prémio Gazeta, em 2005 –, Alexandra Lucas Coelho disse à Lusa, por ocasião do lançamento deste livro, que “o que diferencia o jornalismo da literatura, é a possibilidade de fazer com os materiais tudo o que quiser”, mas que o que continua a movê-la é o mesmo interesse pelo real que a levou ao jornalismo. E a Noite Roda ganhou a 31.ª edição do Grande Prémio de Romance e Novela da APE, que já distinguiu autores como Vergílio Ferreira, José Saramago, Agustina Bessa-Luís ou António Lobo Antunes, e que cujo vencedor mais recente fora Ana Teresa Pereira com O Lago.

A obra já se encontra disponível na Biblioteca.
Aventure-se na sua leitura!

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Eduardo Lourenço ganha prémio de ensaio Jacinto do Prado Coelho

Tempo da Música. Música do Tempo foi a obra escolhida. Publicada em 2012, reúne textos inéditos seleccionados pela historiadora de arte e musicóloga Barbara Aniello.



O ensaísta Eduardo Lourenço ganhou o prémio Jacinto do Prado Coelho pela obra Tempo da Música. Música do Tempo, revelou hoje à Lusa fonte do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários.

O prémio, no valor de cinco mil euros e que distingue ensaios literários, foi atribuído por unanimidade a Eduardo Lourenço, por esta obra publicada em 2012 que reúne textos inéditos seleccionados pela historiadora de arte e musicóloga Barbara Aniello.

O júri, composto por Clara Rocha, Maria João Reynaud e Teresa Martins Marques, justificou a escolha pela "qualidade indiscutível da obra, reconhecida por pessoas da área da literatura bem como da musicologia".

O prémio será entregue nesta quinta-feira, às 18h30, na Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa.

Tempo da Música. Música do Tempo reúne 212 reflexões escritas por Lourenço entre 1948 e 2006, que estavam dispersas em folhas avulsas, em agendas de bolso, páginas soltas ou agrafadas, algumas encontradas dentro de livros, que Barbara Aniello foi juntando, inventariando e catalogando no espólio do ensaísta.

Numa reflexão, Eduardo Lourenço escreveu: "Certamente, se um dia voltar para Deus, a nenhuma outra coisa o deverei senão a estas estradas de uma melancolia lancinante que, desde o canto gregoriano até Messiaen, devoram em mim o sentimento da realidade do mundo visível."

Eduardo Lourenço, considerado um dos maiores pensadores portugueses, nasceu em 1923 em São Pedro de Rio Seco (Guarda), e embora resida em França desde os anos 1960, manteve sempre uma grande ligação a Portugal, refllectindo sobre a sociedade portuguesa.

Em 2011, a Fundação Calouste Gulbenkian editou a sua obra completa.


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

FALECEU A ESCRITORA DORIS LESSING



A escritora britânica Doris Lessing, que recebeu em 2007 o Nobel da Literatura, morreu ontem aos 94 anos.
Lessing foi descrita pela Academia Sueca, que lhe atribuiu o Prémio Nobel da Literatura em 2007, como "uma épica da experiência feminina que, com cepticismo, fogo e poder visionário, sujeitou uma civilização ao escrutínio". 

Doris Tayler, que como escritora veio a adoptar o apelido do seu segundo marido, Lessing, nasceu a 22 de Outubro de 1919 em Kermanshah, no Curdistão iraniano, então integrado no reino da Pérsia. O pai, o capitão Alfred Tayler, tinha perdido uma perna na primeira guerra e conhecera a futura mãe de Doris, a enfermeira Emily McVeagh, no hospital onde recuperava da amputação. Quando Doris nasceu, os pais viviam em Kermanshah, onde o ex-militar conseguira emprego, trabalhando como escriturário num banco.  

Em 1925, a família mudou-se para a colónia britânica da Rodésia do Sul, onde Tayler acreditava poder enriquecer plantando e vendendo milho. Investiu as poupanças na compra de uma grande extensão de terreno, mas o negócio revelou-se ruinoso e a família passou dificuldades. Doris estudou numa escola dominicana, em Salisbúria (hoje Harare, no Zimbabwe), mas abandonou os estudos aos 14 anos, tendo continuado a sua instrução por conta própria, lendo romancistas ingleses e russos.

Um ano depois abandona também a casa paterna e sobrevive trabalhando como enfermeira, criada, telefonista, secretária. Aos 19, casa com Frank Wisdom, um funcionário público, de quem terá dois filhos. O casamento não dura muito.
Em 1943, já divorciada, frequenta as reuniões do Left Book Club, um clube do livro organizado por intelectuais comunistas e adere ao Partido Comunista, então proibido na colónia do Rodésia do Sul. Este período de militância clandestina aparecerá mais tarde reflectido em A Ripple From the Storm (1958), um dos cinco romances do ciclo The Children of Violence, que Lessing inicia em 1952 com A Revoltada (Martha Quest).

Mesmo antes de receber o Nobel, Lessing já recebera vários prémios, e tentaram mesmo dar-lhe o título de “dama”, ou, por extenso, dama do Império Britânico (dame of the British Empire), honra que recusou
É neste meio que conhece o seu segundo marido, o alemão Gottfried Lessing, então dirigente do Partido Comunista da Rodésia. Em A Ripple From the Storm, Lessing chamar-se-á Anton Hesse, e em The Golden Notebook (1962) dará pelo nome de Willi Rodde. O casal divorcia-se em 1949 e Lessing virá a tornar-se embaixador da Alemanha no Uganda, onde é assassinado em 1979, no âmbito de uma revolta contra Idi Amin.

Com dois casamentos falhados atrás, Doris Lessing chega a Londres apenas com o filho que tivera do segundo casamento, Peter – os dois filhos mais velhos tinham ficado com Frank Wisdom –, e durante algum tempo divide um apartamento com uma mulher sul-africana, que tem alguns quartos alugados a prostitutas, cenário que lhe dará material para In Pursuit of the English (1961).

Mas, nesta altura, o objectivo da escritora é publicar o seu romance de estreia, uma história situada na Rodésia e centrada numa mulher casada com um colono branco, pobre e fraco. A protagonista, espécie de Lady Chatterley inter-racial, tem uma aventura com o seu criado africano, Moses, que acabará por a matar.

O romance, publicado em 1950 com o título The Grass is Singing (A Erva Canta na edição portuguesa), foi atacadíssimo na Rodésia e na África do Sul. Mesmo no Reino Unido, Doris Lessing só atinge algum sucesso comercial e consagração crítica nos anos 60, com livros como The Golden Notebook, ousada experiência ficcional em torno de uma mulher, Anna Wulf, que procura uma espécie de honestidade radical, que a liberte da hipocrisia e da anestesia emocional que vê na sua geração.

Boa parte da ficção de Lessing tem uma forte dimensão autobiográfica, e são muitos os livros que evocam a suas experiências em África, desde as memórias de infância, até às questões sociais e políticas pelas quais se interessou desde muito nova. O modo como os seus romances e contos descrevem as injustiças raciais e expõem os podres da presença colonial britânica em África fizeram com que fosse oficialmente proibida, em 1956, de entrar na Rodésia do Sul. Por essa altura, Lessing também já se desiludira do comunismo.

O escritor sul-africano J.M. Coetzee, que conhece bem o mundo que moldou a obra de Lessing e que a precedeu quatro anos na lista dos prémios Nobel da Literatura, chamou-lhe "uma das maiores romancistas visionárias do nosso tempo".

A biblioteca municipal, na Sala de Adultos, já tem em destaque algumas das obras da escritora.
Aventure-se e boas leituras!
  

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Quem escreveu o meu livro? Com Vergílio Alberto Vieira

A sessão de ontem do "Quem escreveu o meu livro?" teve como convidado especial o escritor Vergílio Alberto Vieira que apresentou a sua vasta obra literária, muita dela recomendada pelo Plano Nacional de Leitura, estando também a nova edição do livro "A cor das Vogais", integrado nas Metas Curriculares de Português. 

O escritor falou da sua vida, dos seus livros, das histórias e inspirações que o levam a escrever, mostrando mesmo alguns inéditos manuscritos a lápis que aguardam edição.

A sessão foi intercalando entre a conversa, a declamação de poemas e a leitura de contos.
Foram muitas também as questões colocadas pelas crianças das escolas do 1º CEB que estiveram presentes na sessão.

Nota Biobibliográfica do escritor:

Vergílio Alberto Vieira (1950, Amares - Braga) cursou Letras na Universidade do Porto, tendo leccionado na Escola Passos Manuel/ Lisboa, até finais de 2008.

Autor de títulos de poesia, ficção, teatro, ensaio e diário, fez crítica de livros na revista África, no Jornal de Notícias (Porto) e no Expresso (Lisboa), produção reunida, em parte, nos volumes Os consentimentos do mundo (1993), A Sétima face do dado (2000), O momento da rosa/ reflexões sobre literatura infantil e juvenil (2012) e As batalhas fingidas (2013).

Editou os diários: Destino de Orfeu (1987) e A invenção do adeus (1994).
Na área da literatura infanto-juvenil, destacam-se: A semana dos nove dias/ narrativa (1989), A cor das vogais/ poesia (1991), seleccionadao para as Metas Curriculares/ 4º edição, Porto Editora. O livro dos desejos/ poesia, PNL (1994), O saco de mentiras/ teatro, PNL (1999), O circo de papel/ teatro, PNL (2003), Paisagem com trenó e neve ao fundo/ narrativa, PNL (2005), os livros dos outros/ poesia, PNL (2006), O Menino Jesus da Cartolinha/ teatro, PNL (2007), Para não quebrar o encanto/ Os direitos da criança, PNL (2007), Cinema Garrett/ poesia, PNL (2008), Meu fito, meu feito/ poesia, PNL (2009), A abelhinha Giroflé/ poesia, PNL (2010), editado recentemente pela Leya/ Brasil. E mais recentemente: O meu sonho é maior que o teu/ poesia (2008), O camaleão preguiçoso/ narrativa (2009), O reino cintilante/ poesia (2010) e A oleira prodigiosa/ narrativa (2011) e Sonhos de gato/ poesia (2012).

No ano lectivo 1999-2000, beneficiou de uma licença sabática, com vista à realização de oficinas de escrita criativa com alunos dos 1º, 2º e 3º ciclos de vários distritos do país e da Região Autónoma da Madeira, experiência pedagógica de que veio a resultar a edição da obra As palavras são como as cerejas (2000).

Entre outros livros, publicou: A biblioteca de Alexandria/ ficção (2001), Crescente branco/ poesia (2004), Pára-me de repente/ teatro (2005) e Papéis de fumar/ obra poética, que inclui o inédito A arte de perder (2006), títulos a que se seguiram: Sombras de reis mendigos/ poesia (2009), Melancholia perennis/ poesia (2009), O navio de fogo/ ficção (2009) e Rosa amoris/ Poesia do séc. XX/ tradução (2011), Minhas cartas nunca escritas/ narrativa (2012) e Amante de um só dia/ poesia (2012).

Integrou o júri dos prémios: Vida Cultural, Literatura Biográfica, Romance e Novela e  Poesia, da Associação Portuguesa de Escritores; de Ficção e Poesia do Pen Clube Português; prémios de Romance e Poesia Correntes d’Escritas/ Casino da Póvoa; prémio de Narrativa Eixo-Atlântico; prémios do conto Camilo Castelo Branco e Manuel da Fonseca; prémios de poesia Teixeira de Pascoaes, Florbela Espanca, Sebastião da Gama e Natércia Freire, entre outros.

Está representado em antologias editadas em Portugal, Brasil, Moçambique, Espanha, França, Itália, Alemanha, Hungria, Bulgária, Estados Unidos, Colômbia, México e Marrocos.
Em 2007, a Companhia de Teatro de Braga encenou a peça Pára-me de Repente, dramaturgia sobre a Guerra Colonial; em 2008, o grupo de teatro Ditirambus/ Teatro Ibérico, de Lisboa, levou à cena a peça infantil O Circo de Papel, a ser editado proximamente no Egipto.

Integrou direcções da Associação Portuguesa de Escritores; do Pen Clube Português e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto.