Ontem, pelas 20 horas, na Biblioteca Municipal, decorreu a sessão do Clube de Leitura de Outubro, que neste mesmo mês, completa 5 anos de existência.
Em comemoração desta data festiva, houve um encontro, no qual não faltaram as especialidades gastronómicas dos membros do Clube, que estiveram particularmente animados.
A obra abordada este mês foi o "O luto de Elias Gro" de João Tordo.
O narrador transporta-nos para uma pequena e enigmática ilha perdida no Atlântico, que não é facilmente identificável, no entanto, "acessível por ferry" (pág. 16) e "a viagem de ferry até à península demora 30 minutos" (pág. 91).
O narrador diz que foi viver para uma ilha num "continente" que não era o seu (pág. 78)
É uma ilha onde se fala francês. "À porta da loja há um letreiro
em francês: 'Épicerie Boulay' " (pág. 30). "Passou por uma
taberna também com um letreiro francês, 'Le Calme avant la Tempête' "
(pág. 31). Drosler escreve
um livro em francês, "La haine et l'Ouest" (pág. 131).
Na ilha há "plantações de girassóis, um cemitério, uma igreja, 25 ou 30 casas..." (pág. 16)
"(Drosler)...um estrangeiro oriundo de
um país (a Dinamarca) a milhares de km de distância, situado na outra
margem de um oceano frio e revoltado... " (pág. 135).
O narrador refugia-se num velho farol abandonado, para se afundar na solidão e na tentativa de esquecimento dos seus próprios dramas, mas acaba por se cruzar com um conjunto de "criaturas singulares", alguns com destinos ainda mais trágicos, que o vão ajudar a encontrar uma saída para a profunda depressão em que se encontra.
Nesta travessia, ao longo do livro, o autor mergulha na alma humana, no que ela tem de mais obscuro e luminoso. Reflete sobre a fragilidade do ser humano, pois "por mais que as pessoas jurem que são feitas de outro material, acredite em mim quando lhe digo que são feitas de porcelana, da mais frágil e dispendiosa".
O personagem Elias Gro torna-se inspirador para o narrador levando-o a superar os desgostos através da fé, não a fé religiosa, mas a fé nas pessoas, baseada na confiança, que de forma progressiva o leva ao encontro da paz e a uma maior interação com o mundo que o rodeia.
"A vida não foi sempre assim. No princípio dos tempos, os homens procuravam-se. Onde é que tu estás, dizia um. Estou aqui, dizia o outro. Percorriam esse distância infinita que nos separa uns dos outros e encontravam-se algures no meio. Caçavam juntos, faziam as refeições juntos. Protegiam-se, se fosse o caso, se o Homem A construía um abrigo, o Homem B partilhava-o com o Homem A."
Em síntese, esta obra é, segundo Ana Ferreira, um dos membros do Clube "A perda. O luto e o renascimento. A sobre/vida e a sobrevivência. O seguir em frente e o não sair do mesmo lugar. O confinamento. A ilha geográfica e a ilha que cada indivíduo pode ser, mesmo não estando só".
Este livro é o primeiro de três romances que, apesar de
constituírem uma trilogia, terem títulos semelhantes e nomes de
personagens que transitam, contam histórias "independentes", sem uma
cronologia a seguir, podendo ser lidos de forma independente ou sem
qualquer ordem específica.
O segundo é "O paraíso segundo Lars D" e o terceiro "O deslumbre de Cecília Fluss" que já estão disponíveis na Biblioteca Municipal.
Parabéns ao Clube de Leitura!