Ontem, pelas 21 horas, decorreu mais uma sessão do Clube de Leitura para a abordagem da obra "Morreste-me" de José Luís Peixoto.
Trata-se do primeiro livro do autor, um poema ficcionado, em memória de José João Serrano Peixoto, seu pai, com uma forte marca biográfica, resultado da sua vivência pessoal, bastante emotivo, afetivo, telúrico e muito alentejano.
Esta obra está recomendada como remédio literário, sendo uma terapia de ajuda a quem passa pela ausência de alguém que nos morreu e precisa de aguentar a carga, o legado e fazer o luto.
Embora o tema seja extremamente depressivo, todos se deixaram render à qualidade literária da obra, puderam partilhar a inquietação causada por todo o processo do envelhecimento até ao momento fatal e a angústia associada.
Mas, não foi só de tristeza que se falou. Rimo-nos e concluímos que tudo isto deve ser encarado como um processo natural, ficando apenas a ausência física, porque todo o resto, fica connosco e com os descendentes nos mais pequenos detalhes.
"Levo o teu nome e as tuas certezas nos passos".
"deixas-te ficar em tudo".
"Pai, meu pequeno filho".
Por fim, a propósito da extrema sensibilidade e humildade do autor, relembremos o seu poema do livro "Criança em ruínas"
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.