Ontem, pelas 21 horas, decorreu mais uma sessão do clube de leitura, para partilhar impressões do livro Gaspar, Belchior & Baltasar de Michel Tournier, autor que faleceu em janeiro passado. Se a melhor homenagem que se pode fazer a um escritor é ler a sua obra, foi então isso que fizemos.
Nada melhor do que pegar nas últimas linhas do «POST -SCRIPTUM», para apontar as razões que levaram o autor a efabular uma reinvenção dos Reis Magos:
"(...) Estas linhas do Evangelho segundo S. Mateus constituem a única menção feita aos reis magos nos textos sagrados. Os evangelhos segundo S. Marcos, Lucas e João não falam neles. Mateus não lhes dá nomes. O número três é geralmente deduzido dos três presentes mencionados: o ouro, o incenso e a mirra. Tudo o resto releva de textos apócrifos e da lenda, incluindo os nomes de Gaspar, Belchior e Baltasar.
O autor tinha portanto a liberdade de inventar, conforme a sua educação cristã e a magnífica iconografia inspirada na adoração dos magos, o destino e a personalidade dos seus heróis.
(...) A lenda do quarto rei mago, vindo de mais longe que os outros, faltando ao encontro a Belém e errando até Sexta-feira Santa, foi várias vezes contada, nomeadamente pelo pastor americano Henry L. Van Dyke (1852-1933) e pelo alemão Edzard Schaper (nascido em 1908), que se inspirou numa lenda ortodoxa russa."
E foi com muito interesse que conhecemos a vida e acompanhamos a viagem de quatro reis, oriundos do Sudão, Iraque, Síria e Índia, que, com as suas motivações (arte, política, amor e... culinária!) deixaram os seus reinos, para se aventurarem até Jerusalém.
Só para aguçar a curiosidade, deixamos algumas pistas que os poderão caracterizar:
- Gaspar, rei de Méroe: "Sou negro, mas sou rei". "A minha curiosidade entra em constante conflito com a reserva e a distância que a realeza impõe".
- Baltasar, rei de Nippur: "Quem sabe - disse ele- se o sentido da nossa viagem não se resume a uma exaltação da negritude?" "(...) pretendo-o ainda - o sentido da justiça e o instinto político necessários e suficientes para governar um povo".
- Belchior, principado de Palmira: "Sou rei, mas sou pobre". "Compreendi pouco a pouco que, no seu espírito, o culto da bela linguagem e das belas coisas praticado ao alto nível devia repercutir-se em todos os escalões certamente em virtudes menos nobres mas essenciais para a conservação do reino, tais como a coragem, o desinteresse, a lealdade, a probidade."
- Taor, principado de Mangalore: "Somos sempre mais ou menos o reflexo dos nossos empreendimentos e dos nossos obstáculos". "Dia a dia, exercitara uma operação que nunca lhe viria ao espírito em Mangalore e que era, de resto, completamente estranha aos grandes deste mundo: pôr-se no lugar dos outros e adivinhar assim o que sentem, pensam e projectam".
Boa leitura!
Boa leitura!
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