Ontem, pelas 21h00 decorreu a sessão do Clube de Leitura, para mais uma conversa sobre livros.
Desta vez, foi dedicada à obra "A casa de papel", do escritor argentino Carlos Maria Dominguez, o que nos permitiu uma viagem pela América Latina (Argentina, Uruguai, Punta del Este) e pela literatura mundial.
Foi com prazer, que de livro em livro, se empreendeu uma viagem sem "loucura" e que nos proporcionou um serão bem passado, com um marcador de livros como presente, para cada uma de nós.
Obrigada a todas!
A sugestão para a leitura deste livro foi feita pela Ana Paula Oliveira que escreveu também este magnífico texto:
Os livros mudam o destino das pessoas, mas as pessoas também mudam o destino dos livros. Poderia ser a frase sinopse deste livro.
Bluma, uma professora de Cambridge, é atropelada enquanto lia o segundo
poema de Emily Dickinson. Bluma morre no início da história, mas a sua
presença mantém-se ao longo da trama. Mulher com uma personalidade
marcante, marcou quem com ela se cruzou, quer intelectual quer
fisicamente. Os livros fizeram parte da sua vida, influenciaram o seu
modo de vida e houve um que acabou por ser o motivo da sua morte.
"Mas conheci uma professora inglesa, muito bonita, que foi o melhor de tudo. Uma daquelas académicas fogosas e petulantes que revestem tudo de citações literárias e que, se lhes tocasse morrer, preferiam ser atropeladas enquanto liam Emily Dickinson"(pág. 51).
"Mas conheci uma professora inglesa, muito bonita, que foi o melhor de tudo. Uma daquelas académicas fogosas e petulantes que revestem tudo de citações literárias e que, se lhes tocasse morrer, preferiam ser atropeladas enquanto liam Emily Dickinson"(pág. 51).
O seu substituto, narrador desta história, recebe pelo correio uma
misteriosa encomenda, vinda de Buenos Aires e endereçada a Bluma, que
contém o livro A Linha de Sombra, de Joseph Conrad, cuja capa incrustada de cimento traz uma dedicatória, escrita por ela, a Carlos Brauer.
O narrador não descansa enquanto não descobre o mistério deste cimento
no livro. Vem a conhecer Agustin Delgado numa viagem pela Argentina e
pelos seus meios literários. Este apresenta-lhe a história de Carlos
Brauer e da sua obsessão pela literatura.
"O interesse de Bauer era a literatura - continuou - , sobretudo edições espanholas, livros de arte, o romance do século XIX, muitos franceses e russos..." (pág. 26) "devorava quantos livros lhe chegavam as mãos" (pág. 32, 33, 34), colecionador de livros raros e de primeiras edições, o qual lia os autores do século XIX à luz das velas e determinados escritores ouvindo músicas de compositores da mesma época, entre outras obsessões, e que mantinha com os livros uma relação de grande prazer, chegando mesmo a ser erótica, na forma como os usava. "eu fodo com cada livro e, se não houver marcas não há orgasmo" (pág. 35, 36).
"O interesse de Bauer era a literatura - continuou - , sobretudo edições espanholas, livros de arte, o romance do século XIX, muitos franceses e russos..." (pág. 26) "devorava quantos livros lhe chegavam as mãos" (pág. 32, 33, 34), colecionador de livros raros e de primeiras edições, o qual lia os autores do século XIX à luz das velas e determinados escritores ouvindo músicas de compositores da mesma época, entre outras obsessões, e que mantinha com os livros uma relação de grande prazer, chegando mesmo a ser erótica, na forma como os usava. "eu fodo com cada livro e, se não houver marcas não há orgasmo" (pág. 35, 36).
Mas, a certa altura, os livros começam a ser um peso para ele, um
pesadelo: invadem-lhe a casa e não os encontra, fazem-lhe perder os
amigos e o dinheiro e viver na solidão (pág. 39,40). É, então, que
começa a mostrar sinais de loucura na catalogação dos livros, recusando
juntar autores cujo relacionamento na vida real não é o mais harmonioso
(pág. 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 52, 57). E a loucura atinge o seu
ponto máximo depois de um incêndio que lhe destrói o sistema de
catalogação e se torna impossível encontrar o livro pretendido. Decide
partir para uma praia isolada e, num ato de completa insanidade,
constrói uma casa feita de tijolos de papel: a sua imensa biblioteca.
Ao longo do livro, no narrador leva o leitor a confrontar-se com
referências a várias obras da literatura universal que, no fundo, são as
protagonistas desta história.
Em suma, a biblioteca que vamos construindo é uma vida, mais do que um
somatório de livros… “Uma biblioteca é uma porta no tempo” e “um leitor é
um viajante através de uma paisagem que se foi fazendo. E é infinita”
(pág. 35).
Neste pequeno romance (ou será longo conto?) revelam-se os limites a que
a paixão pelos livros pode levar um ser humano. Os livros são aqui
descritos como objetos com vida própria, podendo influenciar
decisivamente a vida dos seus donos.
Será, também, uma metáfora da vida: a perda conduz ao desgosto, à irracionalidade e a atos desesperados.
A casa de papel é um livro para quem gosta de livros com livros dentro.
Sem comentários:
Enviar um comentário