Luís Filipe Thomaz reabre o debate
sobre a origem do navegador num artigo publicado pela Universidade Nova
Chama-se Centro Cristóvão Colon e é um espaço na vila de Cuba, Alentejo, que incentiva os visitantes a descobrir quem era o navegador, através de uma exposição que reúne telas, livros e mapas. O centro, criado em 2011 pela Câmara Municipal de Cuba e a Associação Cristóvão Colon, baseia-se na crença de que Colombo era português, nasceu nesta vila e o seu apelido era Colon. No centro de Cuba, em frente ao tribunal, há ainda uma estátua de bronze do almirante que descobriu a América em 1492.
Colombo anuncia aos Reis Católicos de Espanha, Fernando e Isabel, a descoberta da América (quadro de Emanuel Leutze, 1843)
Chama-se Centro Cristóvão Colon e é um espaço na vila de Cuba, Alentejo, que incentiva os visitantes a descobrir quem era o navegador, através de uma exposição que reúne telas, livros e mapas. O centro, criado em 2011 pela Câmara Municipal de Cuba e a Associação Cristóvão Colon, baseia-se na crença de que Colombo era português, nasceu nesta vila e o seu apelido era Colon. No centro de Cuba, em frente ao tribunal, há ainda uma estátua de bronze do almirante que descobriu a América em 1492.
A crença tem atraído muitos visitantes à vila, mas o
mais consensual entre os académicos é que Colombo nasceu em Génova em 1451. “Os
que defendem o contrário são historiadores amadores”, afirma Luís Filipe Thomaz
ao Expresso. Para acabar “com as loucuras que por aí correm a respeito de
Colombo”, o maior historiador português do Oriente resolveu publicar um extenso
artigo de 60 páginas, intitulado “Cristóvão Colón: português, natural de Cuba,
agente secreto de D. João II?”, nos “Anais de História de Além-mar”, revista
científica do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar (CHAM) da Universidade
Nova de Lisboa (UNL).
Mas quem são os “historiadores amadores”? O mais
citado é Mascarenhas Barreto, que faleceu em janeiro. Foi a sua obra “O
Português Cristóvão Colombo, agente secreto do Rei D. João II”, que
“desencadeou em Portugal uma torrente de especulações e fantasias”, nota Filipe
Thomaz. “Barreto não era historiador, mas sim tradutor, romancista e poeta”,
acusa. Há também quem dê conferências sobre o assunto, como os irmãos José e
António Mattos e Silva, membros da Associação da Nobreza Histórica de Portugal.
“Também não são historiadores, mas engenheiros”, contrapõe o investigador da
UNL.
Mascarenhas Barreto, que publicou três livros sobre o
assunto, identifica Colombo como fruto dos amores do infante D. Fernando, irmão
do rei D. Afonso V, com uma filha do navegador João Gonçalves Zarco. O seu
verdadeiro nome seria Salvador Gonçalves Zarco e teria nascido na vila de Cuba,
onde foi educado, sendo essa a razão por que deu o nome de Cuba à famosa ilha e
nomes de aldeias alentejanas a diversos lugares que explorou nas Antilhas e no
continente americano. O problema, segundo Filipe Thomaz, é que “nenhuma crónica
ou documento de arquivo alude, sequer ao de leve, a existência de um filho
bastardo de D. Fernando”.
Em contrapartida, o Cristóvão Colombo genovês “é uma
figura histórica, cuja existência é atestada por documentos de insofismável
autenticidade, dos quais os mais antigos datam de 1470”, argumenta o historiador
do Oriente, “e a sua juventude não é mais misteriosa do que a de qualquer outro
descobridor do século XV, como Diogo Cão, Bartolomeu Dias ou mesmo Vasco da
Gama”.
Cuba, o topónimo nativo
O que deu lugar às especulações sobre a sua juventude
“foi a aura de mistério de que o seu filho e biógrafo, Don Hernando Colón,
tentou cercar a família, simplesmente porque o pai era de origem modesta, filho
de artesãos, embora de certas posses”. Os documentos históricos dizem, por
outro lado, que Colombo se estabeleceu em Lisboa em 1476, mas não rompeu os
seus laços com Génova, nomeadamente porque ficou a trabalhar como agente da
casa comercial Centurione.
Filipe Thomaz analisa também a origem do nome Cuba. “O
da vila alentejana deriva do substantivo cuba, recipiente para fazer vinho ou
dorna quadrada, por sua vez derivado de cubo”, mas o nome da ilha que Colombo
começou a explorar na sua primeira viagem à América “nada tem que ver com ele,
pois é um topónimo nativo”. Basta ler o seu diário: o navegador ouviu falar de Cuba
ainda nas Bahamas, dez dias depois de chegar ao Novo Mundo.
Estátua de bronze do almirante Cristóvão Colombo
no
centro da vila de Cuba, Alentejo
Câmara Municipal de Cuba
Quanto à tese de boa parte dos nomes que Colombo deu
aos lugares que explorou serem réplicas de nomes de aldeias vizinhas da vila de
Cuba, ou relacionadas com Portugal, Filipe Thomaz diz que a lista de 38 nomes
referida por Mascarenhas Barreto “parece ter sido feita com base num passeio
dos olhos por um mapa atual e não na sequência de um exame cuidadoso de
documentação existente, pois inclui até nomes de localidades situadas a mais de
10 léguas (50 km) da costa, onde Colombo jamais conseguiria chegar de
caravela”.
Além disso, inclui nomes de vários lugares onde o
navegador nunca passou. É o caso do Canal de Santarén, a sul da Florida; das
ilhas de Santa Luzia e São Vicente, nas Pequenas Antilhas; ou ainda de Curaçao
e San Bernardo. Curiosamente, há pelo menos dois topónimos de clara origem
italiana dados por Colombo: Saona (Savona) e Portobelo (Porto Bello).
Entretanto, Filipe Thomaz aborda também os motivos que
podiam ter levado o rei D. João II a utilizar o navegador como agente secreto.
“Tem-se aduzido como prova de que o almirante agia em conivência com o soberano
português o facto de no regresso das Antilhas (primeira viagem) ter aportado a
Lisboa antes de se dirigir a Sevilha” para falar com os Reis Católicos. A
verdade é que D. João II “dera ordem para que o prendessem em qualquer porto
português onde fundeasse”, o que chegou a acontecer quando passou pela ilha de
Santa Maria, nos Açores, na sua viagem de regresso da América. Acabou por ser
libertado e continuou a viagem, mas teve de enfrentar uma série de tempestades
e quando chegou perto da costa portuguesa viu-se obrigado a encontrar refúgio
no porto de Lisboa. As autoridades locais participaram a sua chegada a D. João
II e foi o rei que o mandou chamar à sua presença, conta o cronista João de
Barros. Ou seja, “quanto aos serviços a D. João II, prestou-lhe o pior que se
podia imaginar: desviar para o Atlântico, onde entravam facilmente em choque
com os interesses portugueses as atenções de uma Espanha unificada voltada para
o interior da Península Ibérica, o Magrebe e o Mediterrâneo”, conclui Filipe
Thomaz.
“Não tenho dúvidas de que Colombo não era agente
secreto de D. João II”, sublinha João Paulo Oliveira e Costa. O diretor do CHAM
(Universidade Nova), centro com mais de 300 investigadores filiados, concorda
no essencial com o artigo de Filipe Thomaz, mas considera “muito estranho que
um plebeu genovês filho de mercadores como Colombo tenha casado com Filipa
Moniz, filha de um membro da Casa de Viseu, Bartolomeu Perestrelo, que
pertencia à média nobreza”. Oliveira e Costa não conhece “nenhum outro caso
como este” e insiste que “o conjunto da informação que hoje temos não bate
certo com as práticas da época”. E também é estranho “que escrevesse
apontamentos em português, sendo genovês”. No fundo, “é uma personagem
enigmática quando fala de si própria, não deixa tudo muito claro” e, por isso,
“falta um estudo desapaixonado sobre Cristóvão Colombo”.
ARGUMENTOS
As origens
Cristóvão Colombo não nasceu na vila de Cuba, no Alentejo, mas em Génova, sendo filho de mercadores com algumas posses e não filho bastardo do infante D. Fernando, irmão do rei D. Afonso V
Cristóvão Colombo não nasceu na vila de Cuba, no Alentejo, mas em Génova, sendo filho de mercadores com algumas posses e não filho bastardo do infante D. Fernando, irmão do rei D. Afonso V
Toponímia das Antilhas
Os nomes que deu aos lugares que explorou nas Antilhas e no continente americano estão relacionados com os dias dos santos, com a toponímia nativa ou até com cidades italianas, mas não com a vila de Cuba e as aldeias mais próximas, ou pelo menos com Portugal
Os nomes que deu aos lugares que explorou nas Antilhas e no continente americano estão relacionados com os dias dos santos, com a toponímia nativa ou até com cidades italianas, mas não com a vila de Cuba e as aldeias mais próximas, ou pelo menos com Portugal
Colombo ou Cólon
Traduzir o nome e adaptar o sobrenome era no século XV uma prática corrente. Na época em que viveu em Portugal, ainda se denominava Colombo, mas quando se mudou para Castela modificou o nome para Colón, conta o seu filho e biógrafo Hernando Colón
Traduzir o nome e adaptar o sobrenome era no século XV uma prática corrente. Na época em que viveu em Portugal, ainda se denominava Colombo, mas quando se mudou para Castela modificou o nome para Colón, conta o seu filho e biógrafo Hernando Colón
Agente secreto?
Colombo prestou ao rei D. João II o pior serviço que se podia imaginar: desviar para o Atlântico as atenções de uma Espanha unificada voltada para o interior da Península Ibérica, o Magrebe e o Mediterrâneo
Fonte: http://expresso.sapo.pt/…/2017-04-23-Historiador-reafirma-q…
Colombo prestou ao rei D. João II o pior serviço que se podia imaginar: desviar para o Atlântico as atenções de uma Espanha unificada voltada para o interior da Península Ibérica, o Magrebe e o Mediterrâneo
Fonte: http://expresso.sapo.pt/…/2017-04-23-Historiador-reafirma-q…
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