Já se encontram disponíveis na Biblioteca dois livros que possuímos deste autor agora premiado "Os despojos do dia" e "Nunca me deixes".
O autor de "Os Despojos do Dia" reagiu à notícia com típica reserva, alguma dúvida e muita satisfação
O
romancista nipo-britânico Kazuo Ishiguro (n.1954) foi hoje anunciado
como o Nobel da Literatura de 2017. Não sendo um dos nomes mais
esperados, também não é uma surpresa total, dada a sua relativa
proeminência entre os atuais autores do Reino Unido. A escolha retoma a
tradição de atribuir o prémio a escritores de molde convencional, após
Bob Dylan ter sido agraciado o ano passado, numa decisão previsivelmente
polémica cujo embaraço foi prolongado pela longa reticência do cantor
em dizer se aceitava, e se iria a Estocolmo fazer o discurso de
aceitação.
Desta vez a questão não se põe. Logo após saber da
notícia (e sem ter certeza absoluta, aparentemente, de que não era uma
piada) Ishiguro declarou-se satisfeito por receber "uma honra magnífica,
sobretudo porque significa que sigo os passos dos maiores escritores
que jamais viveram". Acrescentou que "o mundo está num momento muito
incerto e espero que os prémios Nobel possam ser uma força para algo
positivo. Ficaria profundamente comovido se pudesse de alguma forma ser
parte de um clima este ano que contribua para algum tipo de atmosfera
positiva este ano"
Essa maneira tipicamente reservada de
expressar emoções, que reflecte as duas nacionalidades do escritor, tem
afinidades com a que encontramos no seu famoso romance "Os Despojos do
Dia", mais tarde transformado num filme cujos protagonistas eram Anthony
Hopkins e Emma Thompson. Hopkins interpretava o protagonista, um
mordomo que passou a vida inteira na mesma mansão e cujo sentido do
dever o faz renunciar à sua vida pessoal. A narração é feita na sua voz,
e o leitor constata várias vezes que ele não percebe as situações em
que está envolvido, um dispositivo que Ishiguro utiliza igualmente
noutras obras.
Em " Nunca me Deixes', o narrador é alguém cuja
realidade só gradualmente se desvenda: um clone, concebido
deliberadamente para morrer e doar os seus órgãos. Não admira que a
secretária da Academia Sueca tenha mencionado Kafka - a par de Jane
Austen - ao anunciar Ishiguro como vencedor. O anúncio oficial da
Academia diz que Ishiguro, "em romances de grande força emocional, pôs a
descoberto o abismo que subjaz ao nosso sentido ilusório de conexão com
o mundo".
Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasáqui e emigrou para
Inglaterra com a família aos seis anos (o pai era oceanógrafo).
Inicialmente tencionava ser músico, mas acabou por estudar escrita
criativa - Malcolm Bradbury e Angela Carter foram seus professores.
Editado em Portugal desde os seus primeiros romances -
"As Colinas de Nagasáqui' e "Um artista do mundo transitório" - é um nome central da ambiciosa geração de romancistas britânicos que começaram a evidenciar-se no início dos anos 80, a par de Martin Amis, Ian McEwan, Julian Barnes e Salman Rushdie.
"As Colinas de Nagasáqui' e "Um artista do mundo transitório" - é um nome central da ambiciosa geração de romancistas britânicos que começaram a evidenciar-se no início dos anos 80, a par de Martin Amis, Ian McEwan, Julian Barnes e Salman Rushdie.
Este último, outro candidato
permanente ao Nobel, deu-lhe imediatamente os parabéns e lembrou que
Ishiguro "também toca guitarra e escreve canções! Sai do caminho, Bob
Dylan".
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