Na passada 5ª feira, pelas 21h30, teve lugar na
Biblioteca a sessão de apresentação do livro "Os Contos impossíveis" de
Tiago Moita, no qual marcaram presença a Vereadora da Educação, Irene
Guimarães, amigos e admiradores.
Raquel Gomes de Pinho e Maria Martins
animaram a sessão com a leitura e interpretação de excertos de alguns contos,
aguçando assim a curiosidade de todos os presentes.
Tiago Moita confessou que "Desde
criança que adorava escrever pequenas estórias. Comecei a perceber a sua
importância mal acabei de aprender a desenhar as primeiras letras, construir as
primeiras frases e procurar o significado dos primeiros conceitos no meu
pequeno dicionário da Lello Escolar, que ainda hoje conservo. Não é por acaso
que aquilo que eu mais gostava de fazer nas aulas de Português eram composições
e ler alguns contos de grandes escritores portugueses como Miguel Torga ou
Sophia de Mello Breyner Andresen, muito antes de conhecer os contos de Edgar
Allan Poe e Ambrose Bierce, porque sentia uma necessidade muito grande em
libertar a minha imaginação e dar asas às palavras que escrevi nos cadernos da
escola, onde por vezes caía na tentação de um dia querer beijar o céu. (Maria
Mar), sem saber que isso um dia ia provocar um volte face na minha vida.
(Raquel Gomes de Pinho)
É por isso que, mal comecei o meu percurso literário em 2006, sonhava, um
dia, escrever pequenas estórias onde pudesse desmontar e desconstruir a
linguagem e as suas personagens, como uma criança tenta construir um lego, e,
ao mesmo tempo, sintetizar em poucas linhas uma circunstância, um conflito ou
mesmo uma aventura, fosse ela qual fosse. Tentar ultrapassar os limites da sua
voz literária através da imaginação e da palavra faz parte do ofício de um
escritor, assim como narrar os gritos que o mundo ignora ou simplesmente
esconde por medo, preconceito ou ignorância. Edgar Allan Poe uma vez disse que
“Quem sonha de dia tem consciência de
muitas coisas que escapam a quem sonha de noite.” Se pegarmos na palavra
“noite” e mudarmos o seu significado para “oculto”, chegaremos à conclusão que
é na raiz de tudo aquilo que está encoberto dentro de nós que, por vezes,
encontramos as respostas às nossas perguntas.
E todo esse desejo transformou-se numa realidade no ano passado, mal
terminei de escrever e ver publicado o meu último romance “A Fórmula do
Peregrino”, quando comecei a reflectir acerca de uma frase que li do livro
“Maçã no Escuro” de Clarice Lispector há muitos anos atrás – e que podem
encontrar na terceira folha deste livro -, que diz assim: “O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós”,
que é, para mim, o mesmo que dizer que só nos revelamos perante o desafio
provocado pelos obstáculos que aparecem no nosso caminho e pela vontade que
nasce desse mesmo desejo em tentar superá-los. E foi dessa revelação que nasceu
este livro que vos apresento hoje. Uma colectânea de dez pequenos contos que
escrevi neste ano, em apenas quatro meses, onde, essencialmente, procurei
demonstrar como, através do surreal, do absurdo e do impossível, a humanidade
destapa a sua máscara e revela a sua cara em circunstâncias tão dramáticas e
bizarras como acolher milhares de refugiados num transatlântico cheio de
contrastes, desejos, preconceitos e esperanças; um casal dividido pelo
preconceito de dois grupos que não são capazes respeitar a diferença de idade
dos seus habitantes; uma lágrima descoberta numa sala despida de emoções e
sentimentos, capaz de revelar os momentos mais belos e trágicos da nossa vida;
uma criança que só queria beijar o céu; três soldados que desmascararam a
retórica fútil e surrealista e a insensibilidade grotesca da classe política de
uma cidade-estado divorciada dos problemas d povo que a elegeu; uma nova noção
de Teatro a partir de um delírio de dois homens, que partem para uma dimensão
desconhecida por causa de uma gota de sangue; um grupo de pessoas que toma consciência
de uma fase da sua existência num quadro vazio de uma mansão abandonada; um
homem que descobre o sentido da vida numa pedra que encontra pelo caminho; um
casal que busca o verdadeiro amor quando perde metade dos seus corpos ou mesmo
um escritor que vê a sua vida a esvair-se numa vela acesa.
Tudo isto e muito mais tentei retratar nestes dez pequenos contos, onde
procurei cruzar a ironia com o absurdo, o real com o transcendente, o surreal
com o assombro e o absurdo com o impossível, de modo a fazer com que esses
pequenos contos fizessem parte de um Todo chamado vida e revelasse a nossa
verdadeira natureza nos aspectos mais belos e negros da Arte, da Natureza e da
condição humana, sem distorcer a razão nem ocultar a realidade, mas antes,
revelar a razão lúcida que constata dos seus limites (Alberto Camus)".
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