A Covid-19 é uma infeção respiratória muito contagiosa, provocada pelo novo Coronavírus, ao qual também se dá o nome de SARS COV 2, acrónimo de "Severe acute respiratory syndrome".
Os seus sintomas sugestivos são, numa primeira análise, febre acima dos 38 graus, tosse seca, e dispneia ou falta de ar, indo desde manifestações muito ligeiras, a moderadas, até um quadro de pneumonia severa, e, em último caso, pode provocar a morte.
Ainda não existem certezas, mas investigações a vários níveis, apontam como cada vez mais provável, que a origem desta infeção tenha acontecido em dezembro de 2019, com a transmissão por um morcego a uma pessoa, num mercado ao ar livre, na cidade chinesa de Wuhan. Certo é que o potencial de contágio deste vírus se tornou evidente, com a disseminação rápida da doença por todo o mundo.
A situação de descontrolo do contágio, chegou ao ponto de, recentemente, a Organização Mundial da Saúde, ter classificado esta situação de pandemia. Desde então, adquirimos a consciência de que, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, todos temos de lidar com este problema.
Por todo o mundo, as consequências desta pandemia têm sido muito evidentes. Em alguns países, o número de pessoas infetadas e falecidas ascende já à ordem das centenas de milhares.
Para tentar controlar o avanço da infeção, múltiplos governos têm implementado políticas restritivas como limitações à liberdade de circulação, cercas sanitárias, e confinamento de populações inteiras em casa.
Numa dimensão sem precedentes, atividades económicas, eventos sociais, culturais, desportivos, religiosos e outros, têm sido sucessivamente suspensos ou cancelados, provocando profundas disrupções na vida das comunidades, e adivinhando uma realidade social e económica totalmente nova e imprevisível.
Devido ao confinamento prolongado, muitas pessoas começam a sofrer de ansiedade, stress, depressão, e outras patologias mentais resultantes do isolamento e distanciamento social, e do facto de não se saber nem quando, nem como se regressará à normalidade.
Tem sido igualmente evidente a grande dificuldade que os sistemas de saúde, mesmo em países desenvolvidos, sentem para dar resposta ao número cada vez maior de pessoas a necessitar de internamento e vigilância médica.
Este vírus é um inimigo silencioso que não escolhe nação, raça, género, nível de riqueza, idade, ou qualquer outra condição. Ninguém está isento de risco.
Alojando-se no sistema respiratório, o Coronavírus está presente em secreções como muco nazal, vapor respiratório, ou saliva. Assim, um dos modos mais fáceis de contrair a doença, é estar em contacto muito próximo e durante certo tempo, com uma pessoa infetada que expira, espirra ou tosse na direção de outra.
Os especialistas acreditam que este agente infecioso pode permanecer ativo durante horas ou dias, dependendo dos casos, em diversas superfícies como madeira, papel, metal, plástico e outras. Assim, uma pessoa também pode ficar infetada se tocar com as mãos numa superfície contaminada com o vírus, e depois levar, ainda que inadvertidamente, as mãos ao rosto, aos olhos ou ao nariz.
Esse é um dos motivos pelos quais nós, pessoas cegas ou com baixa visão, corremos riscos acrescidos, em comparação com as pessoas não portadoras desta deficiência.
Por exemplo, imagine uma pessoa não cega que vai utilizar um terminal de multibanco. Ao chegar ao local, a pessoa imediatamente localiza a máquina com o lhar. Logo de seguida, também utilizando apenas a visão, a pessoa consegue localizar a ranhura na qual vai introduzir o cartão, as teclas a utilizar para efetuar a operação pretendida, e a abertura através da qual vai recolher o dinheiro que levantou, ou o comprovativo da operação em papel.
Apenas vão ser necessários alguns dedos para efetuar todo o processo.
Por seu lado, a pessoa cega não tem esse tipo de controlo. Necessita obrigatoriamente de utilizar as mãos para localizar a máquina, percorrer também com as mãos, a superfície da máquina até encontrar a ranhura para o cartão, e usar novamente as mãos para localizar e acionar as teclas pretendidas.
Por fim, como nem todas as máquinas multibanco são iguais, ainda é necessário usar as mãos para encontrar a abertura, e proceder ao levantamento do dinheiro, ou qualquer outro comprovativo.
Se a superfície do terminal estiver contaminada, facilmente vão ficar contaminados também o cartão, a roupa e a bengala que a pessoa utiliza na sua deslocação.
Este é apenas um dos muitos exemplos.
Concluindo, por ter de usar o sentido do tacto de uma forma muito mais intensiva, a pessoa cega expõe-se a um risco muito maior de ser infetada.
Evidentemente, não vamos adotar atitudes e comportamentos obsessivos, porque tudo o que podemos fazer para prevenir o nosso contágio e o de outras pessoas, é apenas o humanamente possível. No entanto, faz todo o sentido não descurar aquilo que é essencial.
Como pessoas mais expostas ao risco, nós cegos e pessoas com baixa visão, temos a responsabilidade de redobrar os nossos cuidados na higienização frequente das mãos, e em adotar práticas de etiqueta respiratória, como, por exemplo, sempre que tossimos ou espirramos, fazê-lo na direção do cotovelo; nunca para as mãos, e muito menos na direção das outras pessoas.
É igualmente importante estarmos atentos a todas as orientações dadas pelas autoridades governamentais e de saúde, e, nas situações apropriadas como espaços fechados, transportes públicos, e outras situações em que o distanciamento físico seja mais difícil, usarmos máscaras, igualmente e sempre de acordo com essas mesmas orientações fornecidas pelas entidades competentes.
Mas nem tudo são más notícias ou regras de prevensão. Esta pandemia, segundo a Organização Mundial da Saúde, é a primeira na história, sobre a qual se está a exercer efetivo controlo.
Para muitos cegos, estar praticamente confinados à sua residência, já não é nenhuma novidade; portanto, é menos provável que a incidência de patologias mentais associadas a esta necessidade, seja mais evidente entre nós.
Além disso, as novas tecnologias têm desempenhado um papel fundamental no combate ao tédio e ao isolamento, e nós pessoas portadoras desta incapacidade, podemos usar essas ferramentas com esse objetivo.
Ler braille, ouvir audiolivros e podcasts, jogar, assistir a programas com audiodescrição que existem em cada vez maior quantidade, são apenas algumas maneiras interessantes de preencher o tempo livre, consequência do confinamento.
Como medidas preventivas, sempre que possível, nós cegos devemos recorrer a alternativas como as compras pela internet, ou os serviços de entregas ao domicílio.
A Covid-19 vai também obrigar a mudanças muito profundas na realidade laboral. A procura de trabalho sempre foi um enorme desafio para quem tem deficiência visual. Mesmo assim, podemos aproveitar o cada vez maior recurso ao teletrabalho, como mais uma ferramenta para desenvolvermos competências nu uso das novas tecnologias, incluindo sistemas de videoconferência, reuniões em nuvem, plataformas colaborativas, correio eletrónico, e outras áreas.
Quando ultrapassarmos esta situação difícil, certamente seremos mais fortes, estaremos mais preparados para enfrentar outras dificuldades e desafios.
Que cada um de nós faça o seu máximo para que, no final, todos possamos olhar para trás, com a sensação do dever cumprido. Afinal, todos nós temos um papel imprescindível não apenas como agentes de saúde pública, como em todas as outras áreas da vida em sociedade.
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