O Dr. Maurício nasceu em Felgueiras em 1930. Foi professor, investigador de história e genealogista.
Viveu quase toda a sua vida entre Oliveira de Azeméis - onde residia - e S. João da Madeira onde, durante anos, foi professor no Colégio Castilho e na Escola Dr. Serafim Leite (Escola Industrial), tendo criado fortes laços de amizade com os seus alunos e colegas.
Nos anos 60 foi responsável pelo trabalho de inventariação e catalogação dos livros legados à Biblioteca Municipal pelo Sr. José Moreira, referindo no seu relatório a existência de “…obras de grande valor patrimonial e inúmeras edições príncipes..", ou seja, primeiras edições, sendo algumas delas raras.
Escreveu várias obras, mas a que se tornou uma referência para a cidade foi a Monografia que elaborou a pedido no Município, editada em 1966, designada “S. João da Madeira: cidade do trabalho".
No prefácio dessa obra o Dr. Maurício Fernandes refere que com este convite lhe tinha sido exigida a responsabilidade de "…um trabalho que aprofundasse e complementasse o passado sanjoanense, desde os tempos mais remotos à atualidade…" além do levantamento do Património Sanjoanense, o que o obrigou a “…pesquisas rigorosas documentais em todos os fundos arquivísticos…", o que significou ter ido à fonte desses conhecimentos buscar a informação.
Esta obra veio colmatar as falhas encontradas na primeira Monografia de S. João da Madeira, editada em 1944 e da autoria de Mário Resende Martins (médico), José Fernando de Sousa Teixeira (engº agrónomo) e Manuel Dias da Silva (economista), que ao longo dos tempos tinha esgotado. Nessa época a Monografia tinha sido alvo de críticas diversas. Mas como em História não há documentos definitivos e é uma narrativa em permanente construção, esta primeira Monografia foi e é um contributo importantíssimo para o conhecimento da história de S. João da Madeira.
Na obra do Dr Maurício Fernandes editada, como referido, em 1966, podemos encontrar informação preciosa sobre a origem da toponímia “Madeira” e dos diversos lugares do concelho, bem como uma assombrosa descrição sobre o "alvoroço indescritível" quando, pela primeira vez, "um comboio alcançava S. João da Madeira".
São também diversos os fac-símile dos documentos que nos dão conta das primeiras vendas de terrenos no que é hoje o nosso concelho. Num deles, de 23 de março de 1088, refere que "Agila Godins, neta de Godinho Vimaras, vende a Donadeu Álvares e à sua mulher Truilhe o quinhão que tinha herdado de seu avó, num casal sito na vila de Sancto Ioanne que dicent de Mateira por dois moios de pão".
Lá encontramos as justificações mais variadas das razões para a formação deste povoado, depois da reconquista aos mouros. "Bem posicionada geograficamente, a 20 Km da costa marítima e a 30 km do Porto, assente sobre o dorso maciço de uma airosa colina, arejada do mar e da serra...".
E também a referência ao rio que banhava estas terras e que foi um importante fator para a fixação das populações. Era um rio “…E o seu despoluído e muito mais caudaloso leito de então forneceu a todos os colonos e naturais da área ambiente fresco e salutar, copiosa variedade de peixe e inesgotável fonte de energia para matar a fome e proporcionar trabalho. São, aliás provas disso os típicos moinhos e respectivos açudes, que dominam as suas margens e que se podem considerar as primeiras fábricas da terra".
O Dr Maurício Fernandes, que além desta nos deixou várias outras obras, era membro de várias associações como, entre outras, a dos Arqueólogos Portugueses e a de Genealogia. Era também membro da Academia Internacional de Genealogia.
A Biblioteca Municipal tem ao seu dispor a Monografia e outras obras do Dr Maurício Fernandes, as quais estão à sua disposição para serem desfrutadas, nas suas maravilhosas descrições que nos fazem perder na sua leitura.
A bonomia e espírito de trabalho, a Amizade e o carinho com que sempre se dedicou também a S. João da Madeira e às nossas gentes, serão uma marca perene com que relembraremos o “Dr. Maurício” que a doença hoje levou.
2020.06.25
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