Sinopse: Primeiro
número da coleção "complexo de édito". Um livro de poesia disruptiva
e muito visual onde a autora procura o sentido mais literal das palavras. Numa viagem
lírica da subjetividade ao concreto.
O que se diz de "Pudorgrafia" de Suzamna Hezequiel?
"Com a poesia não se diz o concreto dos
dias, nem as evidências, nem o lugar comum. Ela não transforma o mundo no
imediato das revoluções. Inquieta.
Serve, com maior ou menor cuidado, para ilustrar
o que nos é para além, o que nos ultrapassa e, apesar disso, nos é intrínseco.
Sobre as palavras, importa conter as
próprias palavras, até porque, como neste livro, pudorgrafia, é pelo pudor com
que se vestem, com que se combinam e como se desenham que se revelam e nos
despem.
Este segundo livro da suzamna, agora
editado pela Texto Sentido, é o lugar onde ela mesma se transforma, à medida
que se diz e o vamos lendo, afirmando a impossibilidade de dizer de forma
unívoca e a outra impossibilidade maior, a de guardar as palavras.
Porque a poesia também é paradoxo. E porque
a poeta é a própria poesia."
Eduardo Leal
A FORÇA ESTRANHA DE UMA CORPOESIA
As sinestesias são sempre
bem-vindas!
Excecionalmente, como é o caso em
apreço, são mesmo bem-aventuradas, portadoras de epifanias transmutantes e de
sintonias afeitas a concordiar os (pres)sentidos. Ao encetar a escrita deste
expedito texto de avaliação a 'pudorgrafia', de suzamna hezequiel, me
(ou)vi subitamente interpelado por uma outra "força estranha",
cantada pela voz tamanha de Gal Costa.
Lendo nas horas
precedentes os corpoemas do segundo livro de hezequiel, eu já me havia
(pres)sentido sedutoramente submetido pela inapelável força estranha de uma
corpoética pletórica, pujante, onde pulsa, indômito, rebelde, le sang d'un poète nas veias,
artérias e capilares de uma cariátide botticelliana. Força estranha que incita
a corpoetisa a entretecer, com palavras que acordam poliédricas, uma
tapeçaria-mosaico no meio do caminho, hoje tortuoso, da poesia literária. Uma
força, leia-se inspiração, que é estranha porque se origina nas entranhas do
corpoético e se projeta, tal como fósforo-foguetão, palavra (ar)riscada e
acesa, em direção ao campanário luminário das estrelas. Uma força que, nunca
abdicando de ser estranha, por bom fim, em nosso corpo se entranha.
Confirmando os bons
auspícios anunciados em 'paradox.sou' (2010), 'pudorgrafia' (2015) se
metaforiza numa caixa de fósforos, que suzamna vai (ar)riscando e acendendo,
sem ter medo do estranhamento venturosamente deflagrado por estes
incandescentes pontos de lume, de luz de iridescente cor poesia.
Concebidos, escritos,
editados no curso de um íntegro e integral pundonor autoral, estes vigorosos
corpoemas, na aparência epidermicamente opacos são, na realidade, profundamente
hialinos. Pudorgrafias que expõem estar a corpoetisa disponível para continuar
a desafiar e a desafinar, com suas paradoxias ontológicas, "o coro dos
contentes". Sim, o coro dos que se entregam, submissos, a exangue
ortodoxia, a infértil heterodoxia de que enferma a poesia dominante no planeta.
Danyel Guerra
Quem é?
suzamna hezequiel (aka Suzana Guimaraens) nasceu
no Porto em 1972 e vive em Vila Nova de Gaia.
Licenciou-se em Coimbra, em
Línguas e Literaturas Modernas, lecionando há 20 anos. Professa, contudo, a
máxima de Joseph Beuys: “cada homem é um artista”, deambulando, por essa razão,
por distintas formas de expressão, no sentido da autodescoberta e da profunda
exploração do Ser.
Editou três livros, entre a prosa poética, a poesia e o
conto: “Sonho Partilhado” (2000), “paradox.sou” (2010) e “pudorgrafia”
(2015). Dizedora (diseuse) em variados contextos
poéticos, em Portugal e na Galiza, como são disso exemplo as "Quintas de
Leitura" e o "Círculo Poético Aberto".
Explora,
transdisciplinarmente, o teatro, a bijuteria artística, a fotografia, a dança e
a pintura.
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