terça-feira, 18 de dezembro de 2018

CLUBE DE LEITURA - DEZEMBRO

Ontem, pelas 20 horas, na Biblioteca Municipal, decorreu a sessão do Clube de Leitura de Dezembro, antecipada devido aos afazeres natalícios.
O livro selecionado foi "Um muro no meio do caminho" de Julieta Monginho, filha do poeta António Monginho (1925-2009), autora de "Metade Maior", que já tínhamos lido cá, na fase inicial do Clube.

A escolha deste tema, nesta época de Natal, neste período da história, em que a humanidade está a perder a sensibilidade e a compaixão e deixa "vidas suspensas, à beira do muro, à porta da Europa", toca-nos especialmente, leva-nos a pensar o que faríamos se fosse connosco, com apenas "um caderno, um brinco, fotografias, a t-shirt do filho que morreu, um bebé a crescer na barriga, o barulho do seu quarto a ruir"...

O que leva Julieta Monginho a percorrer estes caminhos de voluntariado na Grécia? 

Ela explica de forma quase poética as suas razões, quando escreve "Queria conhecê-los. Pisar o chão que pisaram à chegada. Reparar nas pedras que lhes impeçam os passos, tentar afastá-las. Procurar caminho mais curto entre o que lhes é devido e o que está à sua espera.
Registar para que muitos mais reparem.
Descobrir palavras salvadoras.
Não desperdiçar um único minuto, não omitir um único gesto.
Caminhar entre distâncias, o périplo, o abraço.
Comprei um par de sandálias suplementar, na rua das lojas. Pareciam inofensivas, mas morderam-me os pés, como outras que levara de casa. Acabei por usar quase sempre as mesmas. Ficaram gastas, as sandálias de tiras, parecidas com as que usavam as mulheres gregas da Antiguidade."

Esta obra encaminha o leitor  a uma reflexão que nos chama, interpela, comove, obriga a sair do nosso conforto e põe em perspectiva a nossa vida e muitos dos nossos problemas.

É um livro que não nos dá respostas, porque deixa tudo em aberto. Que nos mostra que uma grande parte da humanidade está em profundo sofrimento e assim continuará, decerto para toda a sua vida.

Não por demérito próprio, mas apenas porque nasceu naquele país, naquele momento.

Com enorme sensibilidade e rigor narrativo, tantas vezes com poesia na voz, Julieta Monginho descreve-nos o dia-a-dia num campo de refugiados sírios, na ilha grega de Chios.
É impossível ficar indiferente aos dramas, aos momentos de alegria e esperança, à compaixão incansável dos voluntários, estes também muitas vezes em sofrimento.
Não há respostas, nem soluções à vista para tão imenso e eterno problema.
Só dúvida, incapacidade, medo.
Neste momento são 260 milhões de pessoas em fuga da fome, da doença, da guerra, das catástrofes naturais, das perseguições étnicas, políticas e religiosas.
Em marcha com os filhos à cabeça, pela mão ou ainda dentro da barriga das mães, caminham sem parar.
Às portas da Europa ou da América, onde sonham encontrar algum tipo de salvação ou abrigo, encontram apenas um muro atravessado no caminho.

Nesta época de amor e carinho foi o livro ideal para se ler e abordar, tendo sido também um momento de reflexão, porque em outros acontecimentos semelhantes, em outros períodos da história, já todos percebemos que se cada um de nós fizermos nem que seja um pouco poderá pôr a salvo alguns. Se conseguirmos proteger alguns já é um feito importante.

Durante a sessão houve também uma partilha de sabores com as iguarias que cada uma cozinhou para este encontro, já com cheirinho a Natal.

Este ano trocamos livros que andavam lá por casa, que já tínhamos lido, que gostamos, ou não, embrulhados em papel pardo e amarrado com fio norte (inspiração do filme "A livraria").

Bom Natal e um Ano Novo cheio de energia para novas leituras.

   
 
 
 
   


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