Ontem, pelas 20 horas, na Biblioteca Municipal,
decorreu a sessão do Clube de Leitura de Dezembro, antecipada devido aos
afazeres natalícios.
O livro
selecionado foi "Um muro no meio do caminho" de Julieta Monginho,
filha do poeta António Monginho (1925-2009), autora de "Metade
Maior", que já tínhamos lido cá, na fase inicial do Clube.
A escolha
deste tema, nesta época de Natal, neste período da história, em que a
humanidade está a perder a sensibilidade e a compaixão e deixa "vidas
suspensas, à beira do muro, à porta da Europa", toca-nos especialmente,
leva-nos a pensar o que faríamos se fosse connosco, com apenas "um
caderno, um brinco, fotografias, a t-shirt do filho que morreu, um bebé
a crescer na barriga, o barulho do seu quarto a ruir"...
O que leva
Julieta Monginho a percorrer estes caminhos de voluntariado na Grécia?
Ela explica de
forma quase poética as suas razões, quando escreve "Queria conhecê-los.
Pisar o chão que pisaram à chegada. Reparar nas pedras que lhes impeçam os
passos, tentar afastá-las. Procurar caminho mais curto entre o que lhes é
devido e o que está à sua espera.
Registar
para que muitos mais reparem.
Descobrir
palavras salvadoras.
Não
desperdiçar um único minuto, não omitir um único gesto.
Caminhar
entre distâncias, o périplo, o abraço.
Comprei um
par de sandálias suplementar, na rua das lojas. Pareciam inofensivas, mas
morderam-me os pés, como outras que levara de casa. Acabei por usar quase
sempre as mesmas. Ficaram gastas, as sandálias de tiras, parecidas com as que
usavam as mulheres gregas da Antiguidade."
Esta obra encaminha o leitor a uma reflexão que nos chama, interpela, comove, obriga a sair do nosso
conforto e põe em perspectiva a nossa vida e muitos dos nossos problemas.
É um livro
que não nos dá respostas, porque deixa tudo em aberto. Que nos mostra que uma
grande parte da humanidade está em profundo sofrimento e assim continuará,
decerto para toda a sua vida.
Não por
demérito próprio, mas apenas porque nasceu naquele país, naquele momento.
Com enorme
sensibilidade e rigor narrativo, tantas vezes com poesia na voz, Julieta
Monginho descreve-nos o dia-a-dia num campo de refugiados sírios, na ilha grega
de Chios.
É impossível
ficar indiferente aos dramas, aos momentos de alegria e esperança, à compaixão
incansável dos voluntários, estes também muitas vezes em sofrimento.
Não há
respostas, nem soluções à vista para tão imenso e eterno problema.
Só dúvida,
incapacidade, medo.
Neste
momento são 260 milhões de pessoas em fuga da fome, da doença, da guerra, das
catástrofes naturais, das perseguições étnicas, políticas e religiosas.
Em marcha
com os filhos à cabeça, pela mão ou ainda dentro da barriga das mães, caminham
sem parar.
Às portas da
Europa ou da América, onde sonham encontrar algum tipo de salvação ou abrigo,
encontram apenas um muro atravessado no caminho.
Nesta época
de amor e carinho foi o livro ideal para se ler e abordar, tendo sido também um
momento de reflexão, porque em outros acontecimentos semelhantes, em outros
períodos da história, já todos percebemos que se cada um de nós fizermos nem que seja um
pouco poderá pôr a salvo alguns. Se conseguirmos proteger alguns já é um feito
importante.
Durante a sessão houve
também uma partilha de sabores com as iguarias que cada uma cozinhou para este
encontro, já com cheirinho a Natal.
Este ano
trocamos livros que andavam lá por casa, que já tínhamos lido, que gostamos, ou
não, embrulhados em papel pardo e amarrado com fio norte (inspiração do filme
"A livraria").
Bom Natal e
um Ano Novo cheio de energia para novas leituras.
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