Morreu o escritor Carlos Ruiz
Zafón, autor de "A Sombra do Vento"
Carlos Ruiz
Zafón ficou conhecido pelo romance "A Sombra do Vento", que o tornou
internacionalmente famoso. Tinha 55 anos e lutava há dois anos contra um cancro
do cólon.
Morreu o escritor catalão
Carlos Ruiz Zafón, autor de A
Sombra do Vento, obra que o tornou internacionalmente famoso. A
notícia avançada pelo El País, citando fontes editoriais, foi entretanto
confirmada pela editora espanhola Planeta.
“Hoje é um dia muito triste
para toda a equipa da Planeta, que conheceu e trabalhou com o escritor durante
20 anos, durante os quais se forjou uma amizade que transcende o profissional”,
declarou a Planeta, acrescentando: Zafón morreu, mas continuará muito vivo
“através dos seus livros”.
Zafón tinha 55 anos e lutava
há dois anos contra um cancro do cólon, refere o La Vanguardia. O autor nascido
em Barcelona morreu esta quinta-feira na sua casa em Los Angeles, onde residia
desde os anos 90. Além de escritor, Zafón era guionista, tendo trabalhado
também na área da publicidade antes de se estrear na literatura. Desde 2018,
data em que soube que estava doente, que não lançava um novo livro.
O chefe do governo
espanhol, Pedro Sánchez, reagiu à morte do escritor no Twitter. “Deixa-nos um
dos escritores espanhóis mais lidos e admirados em todo o mundo. Carlos Ruiz
Zafón, importante romancista da nossa época, deixa um importante contributo
para a literatura atual. Obrigado por nos teres feito viajar pelas tuas
histórias”, escreveu o governante.
O publicitário catalão que
largou o emprego para se dedicar à escrita em Los Angeles
Carlos Ruiz
Zafón nasceu a 25 de setembro de 1964, em Barcelona. Estudou no colégio de
jesuítas San Ignacio de Sarrià e começou a escrever ainda na adolescência.
Estudou Ciências da Comunicação na faculdade e trabalhou em agências de
publicidade, chegando a ser diretor criativo de uma importante empresa de
Barcelona. Abandonou a área em 1992, para se dedicar inteiramente à escrita, a
sua verdadeira paixão. Instalou-se então em Los Angeles, onde vivia desde
então.
Em entrevista
ao El País em 2008, admitiu ter aprendido muito nas agências de publicidade por
onde passou e que “ganhava bem”, apontando existir uma ligação entre a literatura
e a publicidade. “Muitos escritores, como Don DeLillo, trabalharam em
publicidade porque toca a literatura. Aprendemos a ver a linguagem, as
palavras, como imagens. É a mesma coisa com romancistas que foram jornalistas.
Michael Connely, que me interessa muito, era jornalista de justiça em Los
Angeles e sem esse treino a sua literatura seria muito diferente, sem dúvida”,
afirmou, acrescentando que, no seu caso, o que tinha tido mais impacto era o
seu trabalho no cinema.
Foi nos
livros infanto-juvenis que o escritor se estreou em 1993, com o primeiro
volume da saga El príncipe de la niebla, galardoado com o Prémio Edebé.
Mas com os seus livros para adultos que se tornou famoso. A Sombra do Vento,
romance publicado em 2001 em Espanha, valheu-lhe a fama internacional e a
popularidade em países tão distintos como a Itália, Austrália, China e Estados
Unidos da América. Com mais de 15 milhões de exemplares vendidos no mundo
inteiro, é considerada a obra de ficção em língua espanhola mais popular a
seguir a Dom Quixote.
A Barcelona gótica que
conquistou leitores nos cinco continentes
O romance A
Sombra do Vento inaugurou a tetralogia Cemitério dos Livros
Esquecidos, encerrada em 2016 com O Labirinto dos Espíritos. A
história passa-se “Barcelona literária e tenebrosa”, como descreveu o La
Vanguardia, numa “Barcelona gótica”, como afirmou o próprio autor em entrevista
ao Observador em 2016, por altura da publicação do último volume em Portugal.
“É uma
estilização, quis fazer de Barcelona uma personagem, mais do que um cenário.
Tem este lado menos óbvio, barroco, quase expressionista, necessário para estas
histórias. É uma Barcelona literária, claro, não se trata de uma crónica ou de
uma reportagem”, explicou.
Esta trama
“gótica” passa-se entre o início do século XX e a atualidade, propondo uma
reflexão sobre o papel do livro e a importância da literatura num período em
que as tecnologias estavam a mudar os hábitos de leitura.
Entre os
vários galardões que recebeu pela sua obra, conta-se o Prémio Literário Casino
da Póvoa, que foi atribuído em 2016 durante o festival literário Correntes
d’Escritas da Póvoa de Varzim. Zafón Foi o terceiro escritor a receber o
galardão, depois de Lídia Jorge (2004) e António Franco Alexandre (2005).
Fonte: https://observador.pt/2020/06/19/morreu-o-escritor-carlos-ruiz-zafon-autor-de-a-sombra-do-vento/
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